quarta-feira, 18 de novembro de 2009

ALTOS DA AFONSO PENA E A POLUIÇÃO SONORA

Parece que estamos na era do “Estou nem Aí para Ninguém e para Coisa Alguma”. A situação está tão problemática que, em se tratando da poluição sonora, tem virado caso de polícia e muitas ações na Justiça.
Todos os dias, deparamo-nos com uma infinidade de barulho à nossa volta: no trânsito, no trabalho, em casa. É o barulho do micro-ondas, da televisão, do rádio, dos carros passando na rua, das crianças brincando na escola. Porém, alguns lugares que deveriam estar livres de qualquer barulho, destinados apenas ao sossego e relaxamento, apresentam ruídos que vão além da tolerância e razoabilidade.
Estou falando dos altos da Afonso Pena. Um dos cartões-postais da nossa capital e que tem sido palco de exibição de uma variedade inquietante de músicas. Estilos que vão desde o sertanejo até o funk.
Tive a oportunidade de conhecer parques em várias cidades do país e, também, do exterior. E o que se percebe é que são lugares públicos onde as pessoas fazem caminhadas, leem, reúnem-se para piqueniques, namoram, ou, simplesmente, fazem contemplação. Lugares que têm como intuito maior o contato direto com a natureza. Esse era meu intento quando resolvi, num sábado à tarde, caminhar pela Afonso Pena.
Lembrei-me do relato, recebido por e-mail, de um paulistano sobre nossa cidade, no qual ele argumenta que: “Campo Grande é uma grande fazenda disfarçada de cidade, localizada bem no meião de Mato Grosso do Sul”. O que não está de todo errado, pois agroboys e patycows circulam sem ao menos terem a noção do que significa respeito ao próximo.
Porque... colocar três ou quatro amigos na caminhonete, que ganhou ou pegou emprestada do papai, e ir fazer moral com as “gurias” em postos de gasolina, ou na Afonso Pena, ao som de uma música em volume máximo, não é exatamente pensar naqueles que saíram de suas casas após um longo dia de trabalho e que, simplesmente, querem caminhar, espairecer e recarregar as energias.
Penso que cada um se diverte à sua maneira e, também, sabe-se que Campo Grande não dispõe de muitas opções de lazer. Porém, tudo funcionaria melhor se cada uma se divertisse, mas não se esquecesse da velha máxima de que “a minha liberdade termina quando começa a dos outros”.
Será que isso é utopia?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

URBANIDADE, CIVILIDADE E EDUCAÇÃO

Diferenças entre a vida na cidade e no campo evidencia uma visão diferente sobre o que é ser “civilizado”

Quando se fala em urbanidade, logo se pensa no oposto de ruralidade. Mas, o significado é outro: faz referência às formas de comportamento. De certo modo, elas se interligam. Muitas atitudes que, no meio rural, são perfeitamente aceitáveis são incompatíveis com a vida na cidade.

Quantas vezes, você não ouviu esses comentários dos chamados “urbanos”: quem mora na roça é Jeca, cafona, matuto, sem conhecimento, pouco instruído. Em resumo, alguém inferior, que não sabe nem se portar quando vem para a cidade. Tenho minhas dúvidas.

Nasci na roça, criei-me lá até os 6 anos de idade. Depois, vim para a cidade grande, sem, é claro, perder o vínculo com a vida rural. E, lá, tive minhas primeiras noções, penso que as mais importantes, de civilidade. Foi lá que aprendi a pedir licença, por favor, desculpas. Era recebida pelos vizinhos com gentileza, e, nas dificuldades, todos se colocavam à disposição para ajudar.

E isso não era apenas por educação, todos, realmente, se ajudavam, sem pedir nada em troca. Os urbanos têm a falsa ilusão de que não precisam uns dos outros, que são auto-suficentes.

Urbanos se consideram melhores, mas estão tão preocupados com o próprio umbigo, que perderam a noção do que é civilidade, que, nada mais é do que a harmonia entre as pessoas, a partir de códigos de ética, de regras de conduta e mutualidade, de respeito.

Agimos com civilidade quando não jogamos lixo na rua; quando não dirigimos de forma perigosa; quando poupamos o outro dos excessos de barulho; quando mantemos limpa nossa calçada; quando cumprimentamos o vizinho no elevador; quando não “tomamos” a vaga de alguém que já estava esperando há tempo, no estacionamento do shopping; quando sinalizamos ao fazer uma ultrapassagem; quando respeitamos as leis do trânsito; quando respeitamos as limitações e o espaço dos deficientes; quando dizemos aquelas palavrinhas que já não fazem parte do nosso dia-a- dia: bom dia, boa tarde, obrigada, por favor (parece que essas palavras fazem parte do passado, e se tornou vergonhoso pronunciá-las). Coisas simples, que fazem parte do nosso cotidiano, mas essenciais para um bom convívio entre as pessoas e que não se aprendem nos livros e na escola. Educação vem de casa.

A gentileza parece ter saído de circulação. Tornamo-nos tão “modernos”, tão apressados, que nem notamos que estamos perdendo qualidade de vida. Não nos importamos com os muros pichados, com o lixo no chão, com a falta de educação dos jovens, com a sujeira e o abandono. Não nos atentamos para o fato de estarmos nos tornando incivilizados. É o famoso cada um por si e todos contra todos, é querer levar vantagem em tudo.

Estamos tão focados no nosso próprio umbigo, que nos esquecemos do bem comum, porque isso requer renúncia entre as pessoas e respeito pelo espaço do outro. E, com o foco apenas em nós e nossos umbigos, esquecemo-nos de olhar para frente e, assim o fazendo, estamos deixando de progredir.

Para finalizar, uma frase – que simplifica o verdadeiro significado de urbanidade, civilidade e educação – do filósofo e pensador alemão Immanuel Kant: "O homem só pode tornar-se homem pela educação".

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Rádio Clube tem a maior representação de natação

Mirim, petiz, infantil, juvenil, júnior e sênior, são algumas das categorias da natação. Na década de 1980, os atletas da natação buscavam atingir o índice, que é um tempo mínimo estipulado pela CBDA - Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, e dessa forma, passavam a compor a seleção estadual.
Atualmente, os atletas representam seus clubes ou escolas. Os clubes precisam se filiar à Federação de Desportos Aquáticos de Mato Grosso do Sul - FEDAMS, para poder participar das competições. Em sua lista de filiados, a federação conta com o Rádio Clube, a Associação Atlética Mace/Uniderp, Funlec – Fundação Lowtons de Educação e Cultura (Colégio Oswaldo Tognini), o Clube Escolar Colégio Dom Bosco, o Corumbaense Futebol Clube (Corumbá), a Associação Luso-Brasileira/Clube Estoril, a Associação Atlética Aquacenter (Ponta Porã), a Apan – Academia Aquática (São Gabriel do Oeste) e a Aipan – Associação Independente de Pais e Atletas de Natação.
A maior representatividade do estado, atualmente, fica por conta do Rádio Clube, com os atletas Rodrigo Jovê, Ana Clara Ludwing, Guilherme, Reginaldo e Felipe Anache. O colégio Dom Bosco é representado pelos atletas Raul Delvizio e Bianca Maldonado. Já o colégio Mace conta com Rea Petrus Ranieri. A Funlec – Fundação Lowtons de Educação e Cultura tem no elenco os atletas Dante Araújo, Juliano Nakazato, Jackson Alba Júnior, Dante Piazza, Matheus Alvin, Júlio César Souza, Guilherme Vasconcelos, Carlos Fernandes, Carla Daniela, Bruna Camargo e Lucas Centurião. Ao Corumbaense Futebol Clube, pertence o atleta Pedro Henrique Castro. E, na Aipan – Associação Independente de Pais e Atletas de Natação, a atleta Júlia Mariana da Silva.
Nadadores contra a correnteza da falta de patrocínio

O atleta Daniel Grimm é um dos destaques da natação em Mato Grosso do Sul, pois, devido aos excelentes resultados obtidos, foi convocado para compor a Seleção Brasileira de Natação. Ele faz parte da Associação de Pais e Amigos da Natação (Apan), de São Gabriel do Oeste e, atualmente, está nos Estados Unidos, treinando para melhorar ainda mais seu desempenho.
O maior obstáculo, o que não é novidade, é a falta de patrocínio. Apenas os clubes, pais e as escolas dividem as despesas com os atletas nas competições. Isso faz com que os nadadores migrem para outros estados, atrás de patrocínio.
“Para minimizar as despesas, fazemos projetos para participação em campeonatos e em circuitos, que são encaminhados à federação, e ela repassa para aprovação, às comissões gestoras do FAE - Fundo de Apoio ao Esporte (administrado pela Fundação Municipal de Esporte) e FIE – Fundo de Investimentos Esportivos (administrado pela Fundesporte). As despesas, também, são divididas entre a escola e os pais dos atletas. Fazemos promoções para arrecadar fundos. O Colégio Dom Bosco arca com as despesas mensais do clube escolar, oferece espaço físico para os treinamentos e um desconto na mensalidade do atleta”, conta Durval Barbosa da Silva Filho, técnico de natação do clube escolar colégio Dom Bosco.
A Fundesporte – Fundação de Desporto e Lazer do Mato Grosso do Sul tem como principais objetivos a implementação de ações voltadas para o desenvolvimento esportivo. "A Fundesporte promove os Jogos Escolares, Jogos da Juventude, Jogos Universitários e os Jogos Abertos de MS. Além de repassar para as Federações verbas para os projetos aprovados pelo FIE. Havia um Programa de Incentivo ao Atleta, que repassava verbas ao próprio atleta, mas, devido à contenção de despesa, foi cancelado”, explica Paulo Mansano, Gerente de Projetos da Fundesporte.
A treinadora da Funlec – Fundação Lowtons de Educação e Cultura, Colégio Oswlado Tognini, Ana Clara Higa, conta que “a escola arca com as taxas da Federação, oferece os espaço e treinadores, mas que as demais despesas correm por conta dos pais, desde as inscrições nos campeonatos e torneios, até viagens e alojamento”. Diz ainda “encaminhamos projetos de três alunos para o FAE - Fundo de Apoio ao Esporte (administrado pela Fundação Municipal de Esporte), e para a aprovação dos projetos, o fundo tem regras. Entre elas, que os atletas precisam ter resultados expressivos obtidos em competições internacionais, nacionais, regionais (Centro-Oeste) e Estaduais”.
O presidente da Federação de Desportos Aquáticos de Mato Grosso do Sul (Fedams), Jéfferson dos Santos Borges, afirma que “a natação ser um esporte caro, considerado de ‘elite’, e que o governo do estado e a prefeitura têm projetos que ajudam em parte nas despesas”.
Mas, esses projetos ainda não são suficientes. Cerca de 90% dos melhores atletas do Brasil encontram-se no estado de São Paulo. A maioria deles se origina de outros estados, e isso acontece devido à carência de patrocínio.
“Nós incentivamos os atletas, aumentando o número de competições. Este ano, serão realizadas 26 competições entre os meses de março e dezembro. Contribuímos também, com fisioterapeutas, para eles.” diz Jéfferson dos Santos Borges, presidente da Fedams.
Cássio Perez, que é atleta e técnico do Rádio Clube, reafirmou o que disse o presidente da FEDAMS. Para Cássio, “a maioria dos atletas que ganhavam dinheiro, era porque nadavam representando clubes de fora, que davam salário, ou tinham ajuda de projeto do governo. Poucos ganham de empresas. Os atletas daqui já nadaram por vários clubes de fora. Sei de alguns, a Carol Muniz, por exemplo, que foi para o Pan em Santo Domingo e Winnipeg. A Meline foi à África do Sul. A Elizana Nayara e a Fernanda foram para o Chipre”.
A natação, assim como qualquer outro esporte, traz benefícios que vão além de um simples lazer. É por meio do esporte que muitas pessoas conquistam amizades, formam caráter e aprendem a ter disciplina. Tudo isso porque elas crescem batalhando por seus objetivos e se sentindo constantemente desafiadas.

domingo, 7 de junho de 2009

BARBIE – UM ÍCONE QUE ENCANTA E INFLUENCIA GERAÇÕES



Que menina nunca sonhou em ter, ou, até mesmo, ser uma Barbie?
Sua história iniciou quando, Ruth Handler, ao ver sua filha Bárbara brincando com bonecas de papel que trocavam de roupa, teve a ideia de criar uma boneca que também permitisse a troca de roupinhas e que tivesse um rosto diferente das outras bonecas. Eis que surge Barbie, apelido de Bárbara.
A ideia de uma boneca com feição adulta foi inspirada no fato de que quando criança, as meninas querem sempre quer crescer e se tornar uma mulher adulta. Esse fato curioso, aparentemente sem relevância, despertou nas crianças, especialmente nas duas últimas décadas, um desejo de se tornar mulher ainda muito cedo. Talvez por ela não ser uma boneca comum, mas sim uma mini mulher.
O grande sucesso da boneca talvez seja por ser símbolo de tudo o que é belo e mágico, além de refletir o comportamento e os desejos das garotas de todo lugar. Ela pode ser o que quiser, sempre com estilo e, claro, na última moda.
Acompanhou todas as mudanças e marcou gerações inteiras, devido à personalidade. É rica, bonita, famosa, inteligente, amiga, companheira, meiga, politicamente correta e tem um namorado perfeito.
Outro aspecto relevante foi o fato da boneca, quando lançada com profissões diversas, despertar nas mulheres o desejo de buscar algo além do tradicional papel da mulher em 1950. Ela foi até medalhista de ouro olímpico e candidata à presidência dos Estados Unidos.
Lançada oficialmente na Feira Anual de Brinquedos de Nova York em 9 de março 1959.
Seu rabo-de-cavalo loiro brilhante era popular entre as adolescentes no fim da década de 50. Os trajes pertenciam à higiene e arrumação da casa, duas importantes habilidades ensinadas às adolescentes.
Além dos trajes externos, a Barbie também vestia roupas de baixo, simbolizando a idade adulta. Ela tinha um espartilho, que era necessário para encorajar a boa postura das mulheres. Uma roupa popular era o vestido de casamento, pois, nos anos 50 o casamento era uma instituição sacramentada, vista como necessária na idade adulta. Ela também tinha trajes para atividades recreativas, como jogar tênis ou dançar balé. Esportes que as mulheres podiam participar.
A Mattel, empresa produtora do brinquedo, percebeu que a imagem da Barbie era perfeita demais, e decidiu criar um lado mais pessoal da boneca, fazendo com que ela parecesse mais com uma pessoa real. Por isso, na década de 60 foram criados os pais (Robert e Margareth), um namorado (Ken) e uma amiga (Midge), vista com uma imagem mais acessível que a da Barbie, porque era menos glamourosa e menos intimidante. A criação de Ken era necessária porque na década de 50, a mulher era considerada fracassada se não tivesse uma companhia masculina. Em 1969 ganhou uma amiga negra, Christie. E em 1996 ganhou uma amiga paraplégica, Becky, que vinha com uma cadeira de rodas.
Toda propaganda envolvendo a Barbie e o Ken os colocava como um estereótipo de um casal adolescente. Um gibi sobre o casal foi publicada e promovia a imagem da relação entre homem e mulher na década de 60, antes da invasão da cultura hippie.
Em 1961, a Mattel produziu uma gravação sobre o Ken, interpretada pela Barbie. Por meio dessa música, as garotas aprendiam sobre as maneiras adequadas de se comportar em um namoro.
Ela já teve dezenas de profissões: bailarina, cantora, pianista, médica, professora, policial, piloto, astronauta, entre outros. Passou por várias formas físicas, cores de cabelo e de pele, e já foi vestida pelos mais conceituados estilistas do mundo.
Usou diversas fantasias como fadas, pássaros, anjos e roupas típicas de vários países, como México, Chile, Jamaica, Brasil, Inglaterra, Holanda, França, Itália, Japão e Nigéria.
Um curiosidade foi o lançamento da boneca Fula, Uma “Barbie” alternativa lançada em países muçulmanos.
A partir dos 90, uma coleção de alta-costura foi criada pelos designers da Mattel, inspirados em grandes costureiros, como Givenchy. Aliás, muitos estilistas famosos vestiram a boneca em várias ocasiões, como Christian Dior, Chanel, Donna Karan, Giorgio Armani, John Galliano, entre muitos outros e também grifes como Gucci e Levi`s.
O brasileiro Alexandre Herchcovitch fez um modelo especial para a boneca em1999. Versões românticas de clássicos do cinema, teatro e TV também vestiram Barbie e Ken, como Romeu e Julieta, O Mágico de Oz e Star Trek, além de divas, como Marilyn Monroe, Andrey Hepburn, Elizabeth Taylor e Vivien Leigh, que ganharam Barbies vestidas com seus personagens mais famosos.
Uma série de filmes foi lançada, e teve seu início em 1987 sob o título Barbie, A Estrela do Rock. E, com o sucesso, outros foram lançados, sendo o último Barbie em A Pequena Polegar (2009).
Para aliar a tecnologia às bonecas, um site gratuito chamado BarbieGirls.com. foi criado. Ele permite que as crianças criem os seus próprios personagens virtuais. Considerado um lugar seguro para as crianças interagirem on line. Além do site, foi lançado um celular com a marca Barbie, ele é delicado e feminino, em tons rosa, expressando o universo da boneca.
Em contrapartida aos aspectos positivos, é alvo de polêmica, por passar uma imagem da perfeição, dificilmente alcançável para as mulheres comuns.
Prova disso temos Sarah Burge e Jenny Lee Burton.
Sarah gastou cerca de R$ 2 milhões em cirurgias plásticas para se transformar numa boneca Barbie de carne e osso. Ela se submeteu a mais de 100 tratamentos cirúrgicos e cosméticos.
Sua fixação é tão grande que, de acordo com o jornal inglês, Daily Mail, quando se casou, ela encomendou um vestido rosa que imitava um dos modelos usados pela boneca.
Jenny Lee Burton já fez uma cirurgia para levantar as sobrancelhas, três operações no nariz, três implantes nos lábios, colocou silicone nos seios duas vezes e fez três operações para “erguê-los”; também já colocou implantes nas bochechas, e fez lipoaspiração nos braços, cadeiras, coxas, barriga e nos joelhos. Os médicos já lhe advertiram que seu nariz vai colapsar se ela operá-lo outra vez. Ela diz que ainda fará mais cirurgias plásticas, pois não está satisfeita com sua aparência.
Ela já se mutilou de quase todas as formas possíveis; foi cortada, costurada, repuxada, recheada, injetada, quebrada… voluntariamente. A moça diz que sofre de Transtorno Dismórfico Corporal – Complexo de Quasimodo ou TDC, que é uma desordem pouco reconhecida, caracterizada pela preocupação extrema com a própria aparência e com intensa insatisfação por ela, podendo ou não existir razões estéticas para isso.
A questão é que esse transtorno psiquiátrico tem muito a ver com a popularização da cirurgia estética, e com os padrões de beleza que a sociedade impõe.
O desejo exagerado de se ajustar ao que é considerado belo pela sociedade, leva não só à baixa auto-estima e sacrifícios desnecessários (como dietas demasiado estritas e exagero nos exercícios físicos, por exemplo), como a transtornos psicológicos e psiquiátricos, como anorexia nervosa, bulimia e TDC - entre outros.
Todos os dias há um bombardeio com imagens de mulheres perfeitas, sem um grama de gordura e sem celulite, com o cabelo sempre brilhante e lábios carnudos. Essas “deusas” nos acenam das capas de revista, das passarelas de moda, dos filmes, da TV, dos comerciais e de bonecas como a Barbie.
Na verdade, elas não existem. São criadas com Photoshop, maquiagem, cabeleireiro e luz adequada. E, no entanto, a pressão para ser como elas, existe. Não se deve deixar que os chamados “ícones” da beleza digam o que é ser bonita, mas valorizar a beleza da mulher de verdade.
Cada um deve se aceitar como é, ver sua própria essência. Não se deixar levar por padrões e “entrar na faca” simplesmente para perseguir um padrão artificial de beleza.
E assim se criam as Jenny Lee Burton e Sarah Burge da vida. São casos extremos, reais.
Irônico é que, olhando as fotos dessas mulheres, é evidente que elas não atingiram nenhum ideal de perfeição. Elas, e tantas outras que se submeteram a diversos procedimentos cirúrgicos, tampouco são perfeitas. Jenny é uma caricatura tosca; Sarah até é bonita, mas de rosto parece mesmo mais uma boneca do que uma mulher, e seu corpo não se adapta exatamente aos padrões de beleza.
Pergunta-se por que as mulheres se deixam convencer e influenciar por padrões de beleza irreais, a ponto de se submeterem a esse tipo de coisa.
Quando se olha pelo ângulo da Escola de Frankfurt, encontra-se uma resposta a essa questão, porque se verifica que as estruturas midiáticas transformam a sociedade em reféns das classes dominantes, que buscam manipular hábitos, costumes e ideologias de acordo com seus interesses políticos e comerciais.
Pode-se perceber que o mundo vive momentos de alterações em seus processos comunicacionais, graças à globalização e às inovações tecnológicas. Os resultados da aldeia global têm provocado na sociedade uma homogeneidade cultural, anunciada desde as teorias da Escola de Frankfurt, que criticavam os efeitos da indústria cultural.
Com a construção de uma unidade cultural, o consumo fica mais fácil de ser provocado. Da mesma forma, os conceitos políticos e sociais passam a ser facilmente aplicados na sociedade, por meio dos processos de comunicação de massa. Por outro lado, estes processos podem ser utilizados em benefício próprio, como defende de forma otimista Canclini.
Na medida em que a relação com a obra de arte é apropriada pela lógica consumista nas sociedades capitalistas, a indústria cultural transforma a cultura em mercadoria. No campo da comunicação, observa Adorno, essa conversão implica na superficialização e atrofiamento do pensamento crítico.
Constatamos, assim, a partir da Escola de Frankfurt, uma perspectiva que contextualiza o espectador em um processo político (o controle ideológico dos meios), decorrente de relações de produção que transformam a cultura em produto de consumo (a indústria cultural). Tão importante quanto as contradições que a teoria crítica desvenda ao apontar a dimensão econômica que a comunicação está envolvida nas relações entre mídia, cultura e sociedade, são as questões valorativas que essa perspectiva teórica coloca no horizonte dos estudos sobre mídia e política.
Já a escola norte-americana, por meio de um de seus autores, o sociólogo Paul Lazarsfeld, busca em suas pesquisas descobrir os efeitos exercidos pelos meios de comunicação sobre as massas.
Para ele os efeitos sobre o público não se dão de forma direta. Ele se dá por meio de líderes de opinião, geralmente pessoas com credibilidade e capazes de transmitir a mensagem. Lazarsfeld se preocupa em estudar o grupo, pesquisando o comportamento humano.
A escola européia, da qual faz parte a teoria crítica, se preocupava com o estudo do conteúdo, com a ideologia. Desse modo, elas se distinguem uma da outra de várias formas:

ESCOLA NORTE-AMERICANA ESCOLA DE FRANKFURT

PERSPECTIVA
Parte do público Parte do emissor

METODOLOGIA
Pesquisa de campo sobre comportamento Estudo do conteúdo das mensagens, portanto ideologia
TEORIA
Afirma a função dos MCS Afirma a dominação exercida pelos MCS

CONCLUSÃO
Poder da sociedade sobre os meios Poder dos meios sobre a sociedade

Para Adorno, a publicidade reforça a ligação entre as empresas e os consumidores, já que serve indiretamente à venda.
Dentre todas as lições do “case BARBIE”, seguramente a mais importante e que deu origem ao 5º Mandamento do Marketing, é que “PRODUTOS, DEPOIS DE LANÇADOS, TÊM VIDA PRÓPRIA”. Foi o que revelou BARBIE desde seus primeiros anos de vida. A gestão de sua trajetória – na maior parte do tempo de grande qualidade pela MATTEL – foi de acompanhar e sustentar a relação que ano após ano ia estabelecendo com suas admiradoras. Fazendo, exclusivamente, as correções, up-grades e aperfeiçoamento necessários. Para que esse relacionamento só se fortalecesse. Como sempre deveria ser, mas quase nunca é.
A boneca é uma mercadoria presa numa complexa rede de circulação de produtos, movida por estratégias precisas de marketing e comunicação de massa, dirigidas para um público determinado: a criança.
E, como afirma Adorno, a indústria cultural seduz e manipula o seu público para saciar suas próprias necessidades mercantis e de manutenção da ordem vigente.
Todas as empresas, de todos os setores de atividade, nas mesas de seus principais executivos de marketing, deveriam ter um exemplar de Barbie, para que refletissem, permanentemente, sobre seu exemplo. E aprendessem a respeitar mais seus produtos.
Entendendo que todos os produtos, uma vez expostos ao mercado, passam a ter vida própria. E, por decorrência, a maior virtude é respeitar a vitalidade que esses produtos possuem, e criar todas as condições para que essa força interna se transforme em participação de mercado crescente.
Para finalizar, o questionamento a ser feito é: Será que Barbie ainda seria um ícone, se, de fato, acompanhasse as modificações de sua idade (o envelhecimento) e se transformasse a imagem da perfeição inatingível em uma boneca normal? Será que haveriam Sarah Burge e Jenny Lee Burton? É algo a ser pensado e questionado.
CONCLUSÃO

Infere-se que Barbie tem uma qualidade que quebrava os moldes tradicionais femininos. Ela é independente e mostrou às garotas, e também às mulheres, que elas podiam ser mais do que imaginavam. É um ícone, um símbolo social, uma representação da cultura que acompanha as viragens que uma imagem da mulher real vai tendo ao longo dos anos. E acabou gerando uma conduta em mulheres e crianças, pois criou uma nova identidade social.
Fazendo um comparativo das escolas estudadas, Barbie, em sua trajetória, influenciou a sociedade (escola de Frankfurt), quando despertou o desejo de se tornarem profissionais nas áreas exclusivas dos homens, quando inspirou os grandes costureiros e, pode-se dizer, quando despertou em Sarah Burge e Jenny Lee Burton a vontade de serem Barbies.
Por outro lado, Barbie também foi influenciada pela sociedade (escola norte-americana) quando se percebeu a necessidade de criar personagens exigidos pela sociedade, como o namorado Ken, seus pais e amigos.
Essa é apenas uma das tantas histórias existentes, sobre ídolos ou ícones que se sobressaíram e, de alguma forma, transformaram a comunidade.Por fim, como seres humanos dotados de senso crítico, a sociedade precisa estar atenta à massificação a que é submetida todos os dias pela mídia. É necessário aprender a relativizar e discernir sobre o que é essencial e que é dispensável, para que haja um bom aproveitamento do que os meios de comunicação podem oferecer.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

RESENHA DO FILME "O PREÇO DE UMA VERDADE"

O SUCESSO A QUALQUER PREÇO

O filme O Preço de Uma Verdade conta a história real de Stephen Glass, um jovem jornalista com aparente profissionalismo e excelente senso criativo. Além de charmoso, simpático, humilde e, sobretudo engraçado, ele conquista o editor da revista de política e atualidades The New Republic, Michael Kelly, e todos os colegas da redação. Além de ser colaborador de grandes revistas como Harper’s, George e Rolling Stones.
Nas reuniões de pauta suas histórias eram sempre as mais interessantes, curiosas, instigantes e excêntricas. Mas, o que de fato acontecia é que ele aumentava os fatos, inventava personagens e distorcia os acontecimentos, tudo por uma boa história para publicar e para que suas pautas sempre emplacassem.
Os colegas de Stephen sentiam-se inseguros, ineficientes e inferiores, devido ao indiscutível sucesso de suas matérias.
A situação começa a mudar com a demissão do editor Michael e sua substituição por Chuck Lane, que tem um estilo mais sério e responsável. A rotina de produção da empresa ficou um pouco comprometida com a mudança, pela indisfarçável insatisfação dos redatores e pelo fato de Stephen, que tinha um ótimo relacionamento entre os colegas, afirmar que estava sendo “perseguido” pelo novo editor, por ser leal ao antigo.
Em sua trajetória, o novo editor, Lane, observou que algumas informações de Stephen estavam equivocadas e os artigos não refletiam a verdade. Quando questionado, ele alegava que estava “atolado” em trabalho, que tinha as aulas e ainda estudava Direito. Seus colegas sempre o apoiavam e consideravam seus equívocos apenas “pequenos tropeços”.
A farsa de suas matérias começa a ser desvendada quando Stephen sugere uma reportagem “O Paraíso dos Hackers”, que contava a história de um adolescente que, após invadir o sistema de segurança de uma grande empresa, teria sido convidado a trabalhar para ela. E o hacker só aceitaria se fossem atendidas algumas exigências, tais como: viagem à Disney e assinatura de revistas pornográficas.
A desmoralização de Stephen começa quando o editor da revista Forbes Digital questiona o seu repórter Adam Penenberg por ele não ter coberto a matéria do hacker. Com o orgulho ferido, Penenberg decide investigar a história mais a fundo. Buscou informações na internet sobre a empresa, o nome do garoto e a história, mas nada foi encontrado.
Após suas descobertas, Penenberg e seu editor questionam Lane sobre fatos e fontes da matéria. Lane questiona Stephen sobre a veracidade das suas informações. Ele apresentou anotações e fontes muito bem forjadas por ele. Até criou um site para a empresa fictícia. Mas Lane começou a desconfiar e foi conferir pessoalmente e descobre que Stephen mentiu o tempo todo. Pressionado, o repórter argumenta que estava sendo muito pressionado e que as fontes o enganaram. Indignado com a falta de ética do repórter, o editor demite-o.
Há uma revolta dos outros redatores, mas, por fim, Lane consegue fazê-los enxergar a verdade e todos assinam um pedido público de desculpas, admitindo que 27 dos 41 artigos escritos por Stephen Glass foram total ou parcialmente inventados.
Denota-se que Glass considerava absolutamente certas suas atitudes e que, quando pressionado, cada mentira necessitava de outra e que sua atitude era justificada quando demonstrava capacidade de dar bons exemplos aos seus colegas de profissão.
O filme faz refletir sobre a questão da ética e quão preparados estão os jornalistas, ou futuros jornalistas, para serem responsáveis por suas matérias. Retrata ainda a facilidade com que “jornalistas” podem mentir e enganar, transformando ficção em realidade, em busca da fama a qualquer preço. Outro aspecto importante é a reflexão é que nem mesmo o mais sólido e sério veículo de comunicação é dono da verdade absoluta, se seus profissionais não forem éticos.Por último, há que se ter em conta que o Jornalismo e ficção estão em lados opostos, enquanto o primeiro preza a ética e a verdade, a segunda se baseia em histórias fictícias e personagens inventados. O questionamento é para os jornalistas, estudantes de Jornalismo e recém-formados: jornalismo verdadeiro ou ficção, qual é a sua escolha?

quinta-feira, 28 de maio de 2009

TREM DO PANTANAL... EU FUI!

O trem apitou, anunciando sua chegada à antiga estação ferroviária de Campo Grande. Estava com uma hora de atraso, e não tardou muito para que todos embarcassem na locomotiva, que apresentava um desgaste natural e uma visível falta de manutenção.
Isso se passou, lá pelos idos de 1983. Contava com meus 10 anos de idade e estava empolgada, pois, até então, minhas únicas experiências com transporte haviam sido o lombo do cavalo e o carro da família.
Adentramos à locomotiva, no vagão da classe econômica. Afinal, o dinheiro era curto, e a família numerosa. Lembro-me vagamente dos detalhes, mas o que não me esqueço é de como o assento era desconfortável, algo que se assemelhava a um plástico duro, resistente e sem nenhuma flexibilidade. Porém, tudo era novidade. Nunca fui dada a luxos e estava tendo a oportunidade de ver e de andar num trem, ao qual, antes, só conhecia pelos livros. E, também, oportunidade de conhecer a famosa cidade de Ponta Porã, que faz divisa com outro país, o Paraguai.
Conforme relatei anteriormente, o trem estava uma hora atrasado e não demorou muito para que ele começasse a se movimentar. Tinha ouvido comentários de que era um meio de transporte lento. Mas, o que presenciava era um veículo bastante ágil.
Ar condicionado, naquela época, era artigo de luxo. Portanto, as janelas permaneciam todas abertas, com vento, muita poeira e, em algumas vezes, os galhos das árvores batiam e espalhavam folhas pelo lastro do vagão, sujando tudo. Mas ninguém se importava!
Era também um “calacatraca” (som do contato das rodas de ferro com os trilhos) que não parava mais. Era engraçado observar os passageiros, num sacolejar sem fim, batendo seus corpos horas e horas. E, saboreavam suas “matulas” (lanches e bebidas preparados em casa), pois o trem, na classe econômica, não tinha serviço de bordo.
Apesar de proibido, gostava também de enfiar a cabeça pela janela e sentir o vento no rosto, sem me importar se o “penteado” se transformaria num emaranhado de cabelo sem forma.
Não me recordo de quantas vezes o trem fez suas paradas. Mas, a cada uma delas, lembro-me de que o apito era o aviso de chegada e o adeus de partida. Era tudo muito rápido, embarque e desembarque. E, na plataforma, avistava-se quem estivesse esperando por alguém, ou se despedindo de alguém.
Devia haver, no trem, um vagão-restaurante, mas, acho que nem cheguei a conhecer. Meu pai, um sistemático (inveterado), não nos permitia ficar vagando. Tínhamos que ficar todos juntos e sentados. Acho que era uma forma de não nos perdermos. Não sei...
Finalmente, com uma hora adiantada (eu disse com uma hora adiantada), só para se ter uma ideia de como aquela locomotiva voou nos trilhos, chegamos à empoeirada cidade de Ponta Porã. Empoeirados também estávamos, dos pés à cabeça, cabelos desgrenhados e com calos nos pés e nas nádegas.
Confesso ter ficado feliz com a experiência. Mas, quando meu pai nos perguntou se preferiríamos voltar de trem ou de ônibus, fomos unânimes em dizer que seria muito legal voltar de ônibus.
Hoje, com o olhar crítico de adulta, confesso não ter sido a melhor experiência. Mas, na época, para quem quase não tinha a oportunidade de sair e, principalmente, viajar, foi algo que ficou gravado em minha memória.
Algum tempo depois, soube da triste notícia de que o trem não mais iria trilhar pelos campos verdejantes, levando seus passageiros, pois seriam necessários muitos investimentos para sua manutenção.
O tempo passou... Nas minhas andanças pelo mundo, tive oportunidade de sentir aquele frio na barriga, peculiar das aterrissagens e decolagens de avião. Experimentei a sensação de ser uma ilha, quando, do mais alto ponto de um navio, pude contemplar o mar, em seu esplendor. Fiz minha segunda viagem de trem. Dessa vez, fora do país. Algo totalmente diferente da minha primeira vez. País de primeiro mundo. Trem de primeiro mundo. E não era nenhum trem-bala. Pelo contrário, seguia vagaroso pelos trilhos, com possibilidade de se apreciar a bela paisagem.
Nostalgicamente, lembrei-me daquele velho trem de ferro, das nossas belas paisagens e de como seria maravilhoso se o reativassem, para que pudéssemos admirar as belezas do Pantanal. Mas, eram apenas devaneios... ou, talvez, utopia.
Qual não foi a minha surpresa, quando ouvi um zunzunzum de que havia um projeto de revitalização do Trem do Pantanal... Era sonho se tornando realidade.
E, finalmente, marcaram a data para a inauguração: 8 de maio de 2009. E, pela repercussão no rádio, na TV e internet, seria coisa de gente grande! O comentário era geral! Até o Presidente da República, Lula, e o Presidente do Paraguai, Fernando Lugo, estariam presentes à solenidade.
Um comichão percorreu meu corpo. E, por um instante, devaneei e me vi entrando naquele antigo trem, mas, agora, encontrava-o todo reformado, o cheiro do couro de suas poltronas penetrando pelas minhas narinas. Num relance, fiz novamente contato com a terra e vislumbrei a triste realidade: para os pobres mortais, ainda demoraria um pouco desfrutar desse passeio no tempo.
E, de fato, o grande dia chegou! Todas as autoridades presentes, faixa de inauguração cortada, o apito do trem ressoou majestoso e, vagarosamente, começou a percorrer o tão almejado caminho das guaviras, do cerrado, dos pássaros e de tantos outros animais e aves do Pantanal.
Busquei informações sobre a viagem, que estaria aberta ao público. Data prevista, 16 de maio. O preço das passagens, nas categorias econômica e turística, era razoável. Na executiva, nem tanto. Mas, apesar de o tempo ter passado, continuo sem frescura e, em qualquer que fosse a classe, o mais importante seria relembrar momentos guardados no fundo da memória.
Noite de sexta-feira, 7 de maio, a semana havia sido um corre-corre de dar gosto! O professor falava, falava... eu já não conseguia escutar... Meus pensamentos estavam no intervalo e, depois, no final da aula. De repente, algo me chamou a atenção... uma mensagem no celular. Meio displicente, tateei o aparelho e, quando li, meus olhos não acreditavam no que eu via. A mensagem, era de uma grande amiga. Dizia: “Vamos sair de casa, amanhã, às 6h30min, de van, rumo ao Trem do Pantanal. Estou te esperando. Me liga. Beijos”.
Naquele momento, passou o cansaço, o sono, a letargia... minha vontade era sair correndo pela sala e contar a novidade para todos os que ali estavam. Saí da sala e liguei, querendo saber todos os detalhes, como surgira o convite de última hora... Tudo.
Ela não entendia muito minha euforia. Mas contou que, além dos jornalistas e donos de agência de viagem, haveria alguns convidados que fariam parte da segunda viagem do trem e que havia se lembrado de mim. Caramba! Tudo perfeito! Nem estava acreditando que as coisas pudessem estar acontecendo tão cedo e daquela forma!
Agradeci e confirmei que, antes do horário combinado, estaria lá.
Naquela noite, quase nem dormi... Viajei no tempo... Por algum motivo, lembrei-me do meu pai e “bateu” uma saudade muito grande... Sua presença marcante me acompanha. Mas, parei de ficar pensando no passado e tratei de dormir. Afinal, sábado seria o dia “D”.
Estava acostumada a acordar tarde. Mas, naquele dia, nem bem o sol despontava, e eu já estava pronta. Rapidamente, eu e meu filho, nos arrumamos para o que seria uma “viagem no túnel do tempo”.
Encontramo-nos no lugar marcado e rumamos para a cidade de Indubrasil, onde o trem iniciaria seu trajeto. Euforias à parte... Todos os que estavam reunidos no terminal ferroviário não escondiam o contentamento de estarem ali.
O trem apitou... Um arrepio percorreu meu corpo... Disfarcei as lágrimas e segui a multidão, que se aglomerava nas portas de entrada dos vagões. Observando o alvoroço, percebi em muitos um olhar saudosista, de quem estava retornando depois de ter vivenciado aquele trem em outra época.
E mais uma vez o apito anunciou a partida do trem... Tudo ali dentro estava mudado. Do velho trem só sobrou a saudade. Os vagões ganharam tons lilás, desenhos estilizados e poltronas estofadas. Moderno e antigo se misturavam nas fotos que relembravam a antiga estação em Campo Grande e seu movimento intenso nos tempos áureos.
Por ser quase uma viagem inaugural, todos os 280 passageiros podiam trafegar pelo trem, independentemente de seus bilhetes serem da classe econômica, turística ou executiva. Era um vai-e-vem de crianças, garçons, repórteres, cinegrafistas e demais passageiros. Todos querendo conhecer tudo.
Um repentista e tocador de berrante nos encantou com sua inteligência e rapidez no pensamento. Mais uma vez, as lembranças do meu velho pai se fizeram presentes. Ele tocava berrante como ninguém e emocionava a quem o ouvia.
No vagão-restaurante, uma surpresa: um trio apresentava suas canções maravilhosas e atendia aos pedidos de quem quisesse ouvir uma bela música... “Mercedita”... E tantas outras.
E, por onde passava, o trem atraía a atenção. Velhos, jovens, crianças, pessoas dentro de seus carros, na rodovia; cavaleiros levando a boiada; até os mais tímidos acenavam ao ouvir o apito. Nas pequenas cidades ou nos vilarejos, acenávamos, feito crianças na janela, e todos respondiam ao cumprimento, com um aceno de mão e um sorriso no rosto.
E, assim, a viagem transcorreu na mais perfeita ordem. O problema do não funcionamento do ar condicionado até que foi providencial, pois, dessa forma, poderíamos abrir as enormes janelas e sentir o vento no rosto... Tal qual na primeira vez.Depois de quase cinco horas, chegamos a Aquidauana, nosso destino final... O trem ainda seguiria até Miranda. Meu sonho havia se realizado. Ao desembarcar na bela estação ferroviária da cidade, foi como se um ciclo tivesse terminado... Mas, penso que, na verdade, é apenas o começo de outras tantas viagens pelo Trem do Pantanal.

terça-feira, 26 de maio de 2009

TOLERÂNCIA ZERO COM AS MAÇÃS PODRES

Escolhi o Jornalismo por acreditar ser uma profissão digna, que tem um papel de extrema importância na sociedade. Capaz de promover mudanças, exercer um grande poder, mas que, em contrapartida, tem uma grande responsabilidade.
É indiscutível a capacidade de influência da mídia nas nossas vidas. Se você lê uma matéria, ou ouve que andar à noite por determinado bairro é perigoso, é provável que você evite andar por lá. Ainda há a busca pela previsão de tempo, antes daquela viagem no final de semana. Não percebemos o efeito da informação na nossa vida, mas ele está lá, presente no dia-a-dia.
Sempre pensei no Jornalismo como um ato de contar histórias. Histórias verdadeiras e contadas a um número inimaginável de pessoas, especialmente, com a invenção da Internet.
E o jornalista busca os detalhes dessas histórias. O mais interessante é que as pessoas acreditam nelas, porque há um compromisso implícito entre o profissional e a população, de ética, de imparcialidade, de dizer apenas a verdade.
Mas, infelizmente, o que se vê é que alguns maus profissionais, ditos “maçãs podres” vêm enlameando a profissão. Ainda não se deram conta de que seu papel é informar a população, de forma que ela possa emitir seu próprio juízo de valor.
O jornalista está se tornando um escravo da audiência e, com essa atitude, seu verdadeiro papel está ficando cada vez mais distorcido.
Quantas vezes não nos deparamos com profissionais, instruídos e moldados pelos “donos das mídias”, que contam suas histórias para influenciar o comportamento das pessoas em favor dos seus interesses. São lobos em pele de cordeiro, que se aproveitam da falta de senso crítico, desencadeada pelo ensino de péssima qualidade.
Ainda me causa aflição ver “jornalistas” que se submetem a falar da vida alheia. Especialmente, de famosos. Divulgam “informações importantes” da vida íntima das celebridades, casamentos, separações, depressões. Até as brigas entre namorados viraram notícia! É a corrida desenfreada pela audiência. E esse tipo de “notícia”, infelizmente, recebe milhares de acesso todos os dias.
Apesar da existência desses profissionais, tenho orgulho do Jornalismo e acredito que a maioria dos jornalistas é gente honesta, trabalhadora e enérgica.
Mas, de qualquer modo, é preciso repensar o papel do Jornalismo e do jornalista: se estamos sendo agentes transformadores, se estamos sendo capazes cumprir nosso papel, com o intuito de buscar melhoria para a sociedade. E, o mais importante, se temos compromisso com a verdade.
E, não podemos nos esquecer de que a existência da nossa profissão está diretamente ligada à nossa credibilidade.
Aos bons profissionais: aplausos!
Às “maçãs podres”: tolerância zero!

QUEBRANDO MINHAS BARREIRAS

Tudo ia bem... Uma boa casa, um bom carro, um excelente emprego, um filho que sempre me trouxe alegrias, viajar sempre que possível... Até que, motivada pela energia de quem estava sempre buscando novos conhecimentos e oportunidades, despertei para outros interesses e comecei a ver a vida por uma nova perspectiva.
Enchi-me de coragem e, da mesma forma que todo ano tinha que encarar o “leão” do Imposto de Renda, resolvi enfrentar o “bicho-papão” do vestibular.
Estava fora do “mercado” do vestibular, há quase 20 anos, e acreditava que minhas chances de passar eram ínfimas. Afinal, meus conhecimentos se resumiam à minha experiência profissional, especificamente, na área jurídica, e nos meus 35 anos de idade. Ou seja, quase nenhuma.
Num primeiro momento, precisava escolher o curso que realmente me realizasse, afinal estava optando por uma realização mais pessoal do que profissional. O mais indicado seria fazer Direito, que estava diretamente relacionado ao meu trabalho e facilitaria a minha ascensão. Mas, definitivamente, Direito nunca esteve nos meus planos.
Confesso que cheguei a olhar a grade curricular, mas cada matéria que eu lia criava uma “coisa” no meu estômago que, definitivamente, não era boa. Sabe aquela sensação de que você comeu uma maionese estragada, ou pior, quando você recebe a conta do cartão de crédito? Se você não tem um cartão de crédito, sorte a sua! Porque a sensação não é das melhores, ainda mais quando a gente extrapola nas comprinhas.
Pois é, voltando à grade curricular! Área de exatas, nem pensar... biológicas, então? Não gosto nem de tirar meu sangue para fazer aqueles “maravilhosos” exames anuais, quanto mais ver sangue dos outros!
Voltei às humanas! Fiquei dividida entre Psicologia e Jornalismo, com uma maior tendência à segunda opção.
Nessa hora, percebi que precisava ser prática! Afinal, tinha que pensar na minha realização pessoal. Mas, também, em algo que pudesse ser aproveitado no meu atual emprego. Se pudesse unir o útil ao agradável, ficaria ainda melhor! Unir a paixão e a razão! Pensando em tudo isso, fiz a opção pelo Jornalismo.
Fui à luta! Com a cara e a coragem, sem cursinho preparatório, entrei nos sites das universidades, para fazer minha inscrição. Primeira decepção! Nenhuma universidade oferecia, no vestibular de inverno, a opção de Jornalismo.
Já estava decidida a fazer um “teste” comigo mesma para ver minha capacidade, ou incapacidade, de passar no vestibular. Tinha a opção do Direito! Era só teste. Portanto, encarei a prova!
No dia do vestibular, fui despreocupada! Afinal, só tinha comentando com amigos mais íntimos. Se não passasse, só iria aguentar a gozação deles.
Além do quê, meu propósito era um teste, e o curso não era o que eu queria.
Fiquei, confesso, ansiosa para que chegasse logo o dia do resultado. Afinal, minha autoestima estava em jogo!
O dia do resultado chegou. E, com ele, para minha surpresa: segundo lugar! Aquilo foi o céu! Contei para todo mundo e me senti viva de novo! Foi uma sensação inigualável!
Passada a euforia, coloquei os pés no chão. E a vida continuou seu percurso, tal qual o rio, às vezes, com algumas corredeiras, mas, depois, seguindo o seu curso normal.
Iria aguardar até o início do ano, para, novamente, fazer o vestibular, este com a opção certa.
Esqueci momentaneamente aquela adrenalina e toquei a vida.
Cinco meses haviam se passado e lá estava eu, mais uma vez, passando pela prova do vestibular. Um pouco mais preocupada, pois, o número de concorrentes era maior e, dessa vez, seria para valer!
A angústia pelo resultado foi três vezes maior. E, no dia “D”, mais uma vez, surpreendi-me: 2° lugar novamente! Numa universidade particular, é claro! Nem tentei a universidade pública, porque, lá, com certeza, minha autoestima iria parar no meu pé... ou melhor, provavelmente, eu nem mais teria uma autoestima!
Orgulhosa, por atingir meu objetivo inicial, que era passar no vestibular, fui fazer minha matrícula! Passei rapidamente os olhos para o valor, escrito bem pequenininho, no lado direito do boleto! Nessa hora, lembrei-me da tal Pollyana não sei do quê, e do seu Jogo do Contente! Para quem não conhece o jogo, a coisa funciona mais ou menos assim: Pollyana, personagem principal do livro, conseguia ver sempre algo positivo, mesmo nas piores situações! Não sei como ela conseguia!
E, como Pollyana, estava eu ali tentando jogar o jogo. Sabia que teria de abrir mão de algumas coisas. Procurei não pensar nas viagens que deixaria de fazer, nos sapatos que deixaria de comprar... Mas, afinal, nem sou uma centopéia! Não preciso assim de tantos sapatos! Maldita hora em que, lá pelos meus idos 12 anos, li aquele bendito ou maldito livro!
Veio o final do ano! Festas, viagem (afinal, ninguém é de ferro!) e muito descanso! E tudo passou muito rápido!
Início de fevereiro! Começariam as aulas!
Foi nesse momento, que olhei para mim e vi que essa nova realidade vinha com um grande pacote de esforços, que incluía vencer medos, lidar com a falta de tempo e paciência para algumas rotinas que já não faziam muito sentido. Além, é claro, de deixar de partilhar minhas noites com meu pequeno filho, na verdade um pré-adolescente de 8 anos, mas que, para mim, será um eterno bebê.
Naquela hora, pensei numa velha frase: quanto maior o sacrifício, mais saborosa será a vitória! Não sei se é exatamente assim a frase e nem quem é o autor, mas foi do que me lembrei.
Enfim, o tão esperado dia 9 de fevereiro havia chegado. Estacionei o carro, enchi-me de confiança e entrei pelos portões da universidade.
Era um burburinho só... gente indo e vindo... sem saber exatamente onde ficar. Somente os calouros estavam ali. O retorno às aulas para os veteranos estava marcado para o dia seguinte.
Tentei localizar minha sala, e o comentário que ouvi era que o reitor, os coordenadores dos cursos e professores iriam se reunir no pátio central, para dar as boas vindas aos alunos.
No meio do caminho, encontrei nas escadarias do bloco do meu curso duas meninas, que pareciam tão perdidas quanto eu. Tentei um breve contato e fiquei feliz, pois houve uma boa receptividade. Elas também eram do primeiro semestre de Jornalismo. Coincidência ou não, já não estava mais me sentindo tão só.
Fomos as três para o pátio e nos juntamos a outros tantos calouros de vários cursos. O lugar era relativamente pequeno para a pequena multidão que se aglomerava em volta de um palco, montado especialmente, para a ocasião. O calor era infernal, típico de um dia de verão!
O reitor discursou e, em seguida, nos apresentou todos os coordenadores de curso. Algo que considerava necessário, mas bem diferente do que eu me lembrava da experiência do meu primeiro dia de aula na universidade pública, há alguns anos.
Mas, os tempos mudam e, aqui, a realidade era outra: estava numa universidade particular, onde é preciso conquistar de todas as formas o aluno, para que ele não desista do curso, ou deixe de pagar as mensalidades. Tudo, estrategicamente, pensado!
Terminada essa cerimônia, cada coordenador de curso levou seus calouros para suas salas.
Uma forma organizada, mas que, de certa forma, passou-me a sensação de estarmos sendo levados pela mão do professor, tal qual o meu primeiro dia de aula na escola, quando a professora Margarida me segurou pela mão e disse para meu pai que eu estaria em boas mãos. Mas, isso foi há muito, muito tempo!
Ao chegar à sala, fiz exatamente o contrário do que tinha feito na minha vida de estudante. Sentei-me no “fundão”, lugar daqueles alunos desinteressados normalmente e que estariam ali, só para passar o tempo. Era exatamente a imagem que queria passar, contrária àquela dos anos do colegial: primeira da turma, nerd e da turma do “gargalo”.
A sala estava repleta de adolescentes. Cada um com suas características. Fiquei analisando cada um deles. Suas posturas, suas roupas. Uns mais tímidos, outros nem tanto, pois já tentavam um contato com quem estava mais próximo.
O coordenador conseguiu reunir todos os professores e apresentou cada um deles.
Uns mostravam-se mais técnicos. Outros tentavam usar um linguajar mais adequado e descontraído, que “quebrava” o gelo e até nos fazia rir.
Momento interessante foi quando um dos professores, meu companheiro de mais de um ano, apresentou-se. Não sabia se olhava nos olhos, para o chão, ou para os lados. Ele agia da mesma forma.
Já havíamos combinado de manter nossa situação em segredo, porque nunca foi visto com bons olhos o professor que namora aluna ou vice-versa. Não sabíamos até quando a situação iria se sustentar, mas seria o melhor a fazer.
Mas, que foi engraçado foi! Isso não posso negar!
Recados dados, professores apresentados, todos saíram e ficamos somente nós, os alunos.
Alguém sugeriu que nos apresentássemos. Cada um tinha que ir à frente da sala, falar o nome, idade, onde morava e o que gostava de fazer.
Um a um, todos foram se apresentando. Era um com 17 anos, outro com 18. A que tinha mais idade disse ter 20 anos.
Chegou a minha vez... Comecei pelo nome, o lugar onde eu morava, o que gostava de fazer e, não teve jeito, comecei a ouvir uma voz no fundo, outra na frente perguntando minha idade... Protelei por alguns instantes, fiz um pouco de charme e, por fim, falei. Mas, em seguida, usando uma estratégica pensada naquele momento, disse que no meio de um grupo tão bonito e jovem, sentia-me com muito menos idade! Pronto, vieram os assovios, as palmas e, com uma pequena frase, havia ganhado a turma! E, meu receio de me sentir excluída já havia diminuído e muito!
As aulas eram interessantes e, em algumas delas, senti que minha experiência de vida me ajudava a não ficar “boiando” em sala. Daí por diante, vi que não seria assim tão difícil me adaptar novamente aos estudos, até o dia da primeira prova. Voltei a sentir aquele “apertão” no estômago e a sensação de que não iria conseguir. Ressurgiram os velhos medos. E aquela “vozinha” que teimava em me fazer desistir ficou mais insistente e forte.
Mais um “bicho-papão” para vencer! E a primeira prova tinha que ser justamente de Sociologia! O comentário dos alunos dos outros semestres é que a prova daquela matéria era de “arrebentar”, e que, normalmente, as notas se resumiam a 3,0, 4,0, bem distantes da média, que era 7,0.
Com as mãos suadas, a boca seca e o coração acelerado, entrei na sala. Sentei-me e esperei que meu algoz, o professor, entregasse a mim aquela folha de papel com letras que, com certeza, ficariam emaranhadas diante dos meus olhos.
Antes da entrega, o professor anunciou que a prova seria feita em dupla, o que foi surpresa para todos. Fiquei feliz, mas, com um pessimismo que não me é peculiar, imaginei que a prova não seria difícil, mas, sim, bombástica.
O silencio era quebrado apenas pelo barulho do ventilador. A sala emitia uma tensão que era palpável! Finalmente, a tão não esperada folha da prova foi entregue e, tal qual minhas suposições, as letras viraram um emaranhado escuro e sem forma.
Eu e minha parceira de estudo, a mesma que conheci no primeiro dia de aula, começamos a ler e nos perguntar o que exatamente o algoz... (opa!) professor, queria que respondêssemos. Cinco questões! E, em nenhuma delas, ele teve misericórdia!
Mas, a hora era aquela e praguejei, em pensamento, os homens que se dizem inventores de tudo! Como, ainda não tinham inventado a máquina de teletransporte? Porque, na verdade, naquele instante, eu queria estar em qualquer lugar, menos ali.
Sem máquina de teletransporte e uma prova na nossa frente, não tivemos alternativa, senão tentar escrever o melhor que pudéssemos.
Quase duas horas depois, e com poucas vivas-alma na sala, entregamos a prova. O que estava feito estava feito. Restava-nos esperar apenas o resultado catastrófico, que, com certeza, seria nossa nota.
Mais provas, trabalhos. E, por fim, o resultado de cada um deles superou minhas expectativas. Na fatídica prova de Sociologia, obtivemos um 7,7, que nos rendeu uma comemoração, no intervalo das aulas, regada a muita coca-cola.
E, assim, as coisas estão acontecendo melhor do que o esperado. Fui convidada a participar de um seleto grupo de produção de texto e com o nome bem sugestivo de “Tropa de Elite – Tolerância Zero”. Das minhas produções, tive, até agora, três textos publicados, e sei que conseguirei muito mais, porque alguns mitos foram superados.
Algumas coisas que me preocupavam, como a escolha do curso certo e a aceitação do grupo, já estão superadas. E algo que tenho percebido é que a troca de experiência é algo fantástico, porque somos e sempre seremos mestres e alunos. Todo mundo aprende um pouco com o outro, e é isso que tento repassar. Até porque, vejo que a experiência se adquire com o que se assimila da vivência com as pessoas, e não pelo número de aniversários feitos.
Os medos vêm e vão. As dificuldades vão aparecer e sei que terei que superá-las. Não sei quantas vezes pensei em desistir, e não sei quantas mais ainda pensarei. Mas, buscarei viver um dia de cada vez, fazendo sempre o melhor.
Ainda continuo com a mesma casa, o mesmo carro, meu excelente emprego e meu maravilhoso filho, mas não sou mais a mesma! É como se eu estivesse passando por um tempo de amadurecimento. Tal qual a lagarta, que fica envolta num casulo solitário, até o dia em que ela rompe suas as paredes desse casulo e sai batendo suas asas coloridas para ser uma bela e majestosa borboleta! Da mesma forma que ela precisou vencer as amarras, que a impediam de voar e de mostrar sua beleza ao mundo, estou quebrando minhas barreiras para buscar conquistar meu espaço, minha liberdade e a minha felicidade!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL E O IMPACTO NA SOCIEDADE REGIONAL

O assunto que mais repercute na mídia e nas conversas entre empresários e trabalhadores é a chamada crise econômica mundial. Nos findos de 2008 o tema nos trouxe de volta termos há muito esquecidos, como recessão, demissões em massa e fechamento de micro e grandes empresas. Vários setores foram atingidos, alguns com maior e outros com menor intensidade.
No Estado de Mato Grosso do Sul a situação não foi muito diferente. O governo apresentou dados que demonstram uma redução da arrecadação do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), tributo utilizado para a implementação de projetos de melhorias no estado. Em outubro, o tributo rendeu aos cofres públicos R$ 370 milhões, em novembro R$ 369 milhões, em dezembro R$ 360 milhões, em fevereiro R$ 340 milhões e março R$ 350 milhões. A queda foi principalmente em função da redução na compra do gás boliviano, cuja tributação ocorre no estado, por onde o gasoduto entra no País.
Apesar do aparente decréscimo na arrecadação, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), num estudo apresentado em março de 2009, sobre os efeitos da crise econômica internacional no País, demonstrou que Mato Grosso do Sul teve o segundo melhor índice em ICMS, perdendo apenas para o Estado do Amazonas. O estudo levou em consideração o recolhimento entre janeiro e dezembro de 2007 e o mesmo período de 2008, e o resultado foi o acréscimo de 24,18%.
Mesmo com resultado tão positivo na evolução da arrecadação, é perceptível uma retração na economia. Vários estabelecimentos comerciais fecharam suas portas, causando preocupação à população. O receio do descontrole na economia foi visível, o que fez reportar à época da hiperinflação, gerada pela crise econômica dos anos 80.
Essa retração ficou evidente com a divulgação do fechamento de frigoríficos no Estado, que sucumbiram à crise. Iniciou em setembro do ano passado com o Frigorífico Campo Oeste, em Campo Grande, em novembro foi a vez do Frigorífico Estrela, de Ribas do Rio Pardo e do Frigorífico Vitória, em Nioaque. O Grupo Margen suspendeu as atividades em Três Lagoas, Paranaíba e Rio Verde. O Frigorífico Garantia, de Itaporã, retomou os abates, mas não pagou os pecuaristas. O prejuízo aos produtores rurais foi na ordem de R$ 8 a 12 milhões de reais, e muitos trabalhadores perderam seus empregos.
O Frigorífico Independência teve três unidades fechadas e pediu recuperação judicial ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Recuperação judicial é um procedimento jurídico que permite que a empresa que estiver em crise retome suas atividades, desde que haja comprometimento em quitar dívidas. Se a solicitação judicial não for aceita, a justiça pode decretar a falência da empresa.
Os dois maiores frigoríficos do Brasil, Marfrig e Bertin, tentam um fusão com o apoio do BNDES. O setor de carne bovina foi um dos mais afetados pela crise, e a fusão fortaleceria as duas empresas, para enfrentar as incertezas do mercado.
Outra empresa que enfrentou problemas para honrar os compromissos assumidos, no período da crise do agronegócio, foi a Kepler Weber, do segmento de armazenagem de produtos agrícolas, que se endividou para construir uma nova unidade em Campo Grande.
Com dificuldades para a solução de suas dívidas, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial na Vara de Falências de Porto Alegre. Em agosto os credores e acionistas esboçaram um acordo e pediram o cancelamento do pedido de recuperação, que permitiu a assinatura do acordo de reestruturação e investimentos. A empresa busca aliar-se ao Governo Estadual e à Prefeitura Municipal para retomar os investimentos e criar 90 novos empregos diretos.
Já no setor sucroalcooeiro a crise se instalou de forma mais suave, e os usineiros, num esforço conjunto, buscam medidas para se recuperar da crise. E a perspectiva é de que até 2015 o Estado seja o segundo no País em moagem de cana-de-açúcar, o que demonstra um grande potencial na região.
O Governo do Estado adotou algumas medidas, visando minimizar os efeitos da crise e garantir a geração de emprego, tais como a dilatação do prazo para pagamento do ICMS pelos empresários, no período de março a agosto deste ano. Poderão contar com 10 dias a mais para recolher o tributo. Outra medida foi a redução pela metade do valor cobrado do IPVA das motocicletas novas até 150 cilindradas e redução em 50% do ICMS para comercialização da carne processada no estado. Para estimular o setor da construção civil, gerar novos empregos e fortalecer as empresas, o governo terá como meta a construção de 15 mil casas, em vez de 10 mil. Segundo o governo, iniciativas como estas ajudam o estado a retomar o desenvolvimento.
O Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, afirmou que seis estados demonstram sinais de recuperação diante do impacto da diminuição do emprego, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. No caso do estado, isso se deu graças ao pacote de medidas adotadas pelo Governo, que trouxe benefícios para a economia da Capital e dos municípios do interior.
De acordo com dados divulgados, o Estado encerrou o ano de 2008 com uma evolução na geração de saldo líquido de empregos formais, na ordem de 9.866 postos de trabalho. O que significa um aumento de 2,95% no número existente, para assalariados com carteira assinada, em relação a dezembro de 2007. Sobre o tema, o site do Ministério do Trabalho, em 15 de abril de 2009, avaliou de forma positiva o crescimento da empregabilidade no Estado, verbis:

“O Mato Grosso do Sul registrou em março saldo de 4.940 empregos com carteira assinada, e aparece como sexto colocado na lista nacional de geração de vagas no período, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. O resultado foi o segundo melhor da série histórica, menor apenas do que os 5.523 postos criados no mesmo período de 2007.
Os setores Agropecuário e de Serviços alcançaram os melhores desempenhos no estado, gerando respectivamente 2.570 e 1.220 novas vagas de trabalho. Segundo o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, estes setores estão entre os que superaram a crise econômica mundial.
‘O setor de Serviços apresentou os melhores resultados. A Educação e o Turismo alavancaram o emprego, com a volta às aulas e o resquício do carnaval. A agropecuária segue reativando postos, principalmente no Sul, mas é um setor com muitas particularidades sazonais que levam a grande variação de empregabilidade, avaliou o ministro.
A capital Campo Grande apresentou o melhor desempenho entre os municípios do Mato Grosso do Sul, com saldo de 978 novos empregos, seguida por Dourados (659), Naviraí (274), Nova Andradina (196) e Paranaíba (45).
O crescimento da empregabilidade no Mato Grosso do Sul foi de 1,32% em relação ao estoque de assalariados com carteira assinada do mês anterior. No primeiro trimestre do ano houve acréscimo de 9.250 postos (2,49%). Nos últimos 12 meses, verificou-se crescimento de 1,63% no nível de emprego, com 6.090 postos de trabalho. (www.mte.gov.br).

E, ainda, a implantação de uma fábrica de papel em Três Lagoas, fruto do consórcio de ativos entre a International Paper e a Votorantim Celulose e Papel, traz a expectativa da geração de cerca de 30 mil novos empregos diretos e indiretos no estado e o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 0,15%, do Estado em 13% e no Município de Três Lagoas em 300%.
O setor pecuário, deficitário desde 2005, resultante da inacessibilidade da carne ao mercado internacional, superou o quadro com o trabalho conjunto dos produtores rurais e das entidades de classe. O resultado vitorioso veio com a recuperação, em julho de 2008, do status de área livre da febre aftosa com vacinação, ampliando as alternativas do produtor da pecuária de corte, permitindo a exportaçao ao mercado internacional.
Dados fornecidos pela Junta Comercial de Mato Grosso do Sul (Jucems) revelam que o número de empresas constituídas no estado em 2008 é o maior desde 2000. Em 2008 foram abertas 7.528 empresas, as alterações saltaram de 8.455 para 9.099, abertura de filiais de 1.082 para 1.401, as extinções passaram de 1.382 para 1.632 (esse último dado revela que a nova lei de micro e pequenas empresas, facilitou o processo de extinção de negócios há muito desativados) e, por último, o número de falências diminuiu de 17, em 2007, para 6, em 2008.
Para se ter uma análise mais detalhada do assunto, a Jucems publicou em seu site, WWW.jucems.ms.gov.br, quadros comparativos das empresas constituídas, extintas, falidas, as alterações empresariais, as filiais constituídas, as alteradas e as extintas. Demonstra também o número de empresas canceladas por lei e o número de empresas ativas nos municípios do Estado de Mato Grosso do Sul.
Na contramão da crise, as estatísticas constantes no site supramencionado demonstram que o Estado tem mantido um ritmo de crescimento.
Outra forma encontrada para driblar a crise foi a inauguração, em 13 de março deste ano, do Espaço de Divulgação do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), na Casa da Indústria, em Campo Grande. O objetivo principal é a oportunidade de novos empreendimentos para a economia sul-mato-grossense, gerando mais emprego e renda. O BRDE não é um banco comercial, mas de fomento. O prazo de pagamento é mais longo e ele tem o compromisso da análise e viabilidade dos projetos, visando o lucro para o empresário. O crédito está disponível para empresários de qualquer segmento, inclusive produtor rural, para investimento em empresas de qualquer porte, das micro até grandes indústrias.
A crise existe e é preciso lidar com ela. Por pior que seja, ela tem o seu lado positivo: faz buscar uma otimização dos recursos e saídas criativas. Políticos, empresários e a população, todos têm um papel fundamental e, se cada um fizer sua parte, todos ganham.
Otimismo e ação são imprescindíveis para superar esse momento, e o importante não é saber se a crise é um tsuname ou uma marolinha, mas sim como vencê-la, agindo com inteligência e sabedoria.

RESENHA - GLOBALIZAÇÃO - AS CONSEQUÊNCIAS HUMANAS - Zigmunt Bauman

Em sua obra, Globalização – As Consequências Humanas, Zygmunt Bauman dá enfoque às mais diferentes formas de visualização do tema.
Denota-se que, para alguns, globalização é uma meta desejada, e para outros ela é vista de modo desfavorável, porém, independentemente das opiniões formadas, ela é um processo que não pode ser revertido.
O que se busca é dar clareza aos fenômenos visualizados: espaço e tempo, local e global e o autor também desvendar a importância de entender a sensação de apreensão existente no mundo pós-moderno.
Enfim, o que o autor busca é uma tentativa de mostrar que no fenômeno da globalização há mais coisas do que pode o olho apreender e também um exercício de formulação de questões e de estímulo ao questionamento.
TEMPO E CLASSE


Em seu primeiro capítulo, ele faz uma reflexão a respeito de como são construídas as grandes incorporações, indagando sobre a falta de assistência presencial dos investidores, que são os verdadeiros tomadores de decisão (p. 13).
Segue, afirmando que os empregados em nenhum momento têm força de decisão, que as resoluções são tomadas pelos empregadores de capital, geralmente não locais, ao contrário dos funcionários, que têm familiares e moradia local, e que o intuito é buscar lucro com a exploração mão de obra da região.
Essa mão de obra está presa à área e fica à mercê de acionistas que, acaso vislumbrarem perspectivas de maiores lucros em outro domínio, o fazem sem se preocupar nos efeitos desastrosos desse ato.
Existem basicamente duas formas do espaço: aquele onde quem não está aprisionado pela localidade e os que não estão livres da localidade. Os primeiros podem escapar da globalização e dos seus resultados, diferentemente do segundo grupo.
Sob a ótica do pós-guerra, a mobilidade tornou-se fator de cobiça crucial, pois é por meio dela que sobressai a hierarquia social, onde houve uma transmudação dos padrões econômicos, sociais e políticos do local para o mundial, derivando a eficácia do capital e dos investidores.
Porém, com ela veio a desobrigação das empresas com seus empregados, capaz de torná-la desimpedida para se mudar a qualquer tempo, livrando-se, inclusive, das responsabilidades consequentes desse ato, conforme mencionado acima.
Com a nova liberdade do capital e a desvinculação da empresa com o local, não há mais pressão, e quando isso ocorre busca-se, alternativamente, lugares mais pacíficos.
É o fim da distância geográfica, pois ela se tornou apenas um produto social e sua extensão depende apenas da velocidade das informações e dos meios de comunicação.
A respeito do tema, em sua obra A Era do Globalismo, 7ª ed., Ed. Civilização Brasileira, Octavio Ianni argumenta, verbis:

As ciências sociais são desafiadas a pensar o mundo como uma sociedade global e, continua, os estudos e as interpretações podem estar focalizando temas tais como (...) grupos sociais e classes sociais (...) guerra e revolução, modernidade e pós-modernidade. Mas o que tem predominado são as interrogações sobre o modo pelo qual se forma e conforma, organiza e transforma a sociedade nacional, e em que medida o indivíduo é o principal momento da vida social, polarizando muito do que são as relações, os processos e as estruturas.




GUERRAS ESPACIAIS: INFORME DE CARREIRA



No segundo capítulo de sua obra, Bauman afirma que desde a origem da sociedade sempre foram utilizados padrões de comparação de medida, limites e fronteiras, contrariando a ideia de que o espaço social nasce na cabeça dos sociólogos. Partindo dessa premissa, o autor nos expõe à luz de que o ser humano tendenciosamente busca homogeneidade na forma de produzir mapas e a construção de cidades com estruturas similares, utopicamente buscando a “cidade perfeita” e que para a construção e visão da cidade perfeita os homens são obrigados a rejeitar a história e seus traços palpáveis.
Esse mapa, não só geograficamente falando, tinha que ser uniformizado de acordo com as necessidades do Estado Pré-moderno, que, para se tornar moderno, teria que ser oficialmente aprovado por esse mesmo Estado.
E com todo esse processo de transformação operou-se uma desintegração aos “laços humanos”, onde, com a padronização, as relações sociais se tornaram autônomas e, arremata Bauman que “os homens não se tornam bons simplesmente seguindo as boas ordens ou o bom plano de outros”.
A cidade, originalmente criada para preservar a todos dos males vindos de fora, agora se tornou protetora dos inimigos interiores, basta que se observe cada vez mais a busca pela própria segurança como a utilização de carros fechados, sistemas de segurança, etc. Estamos nos isolando cada vez mais, pois o evitamento e a separação fazem parte das estratégias de sobrevivência nas grandes cidades.



DEPOIS DA NAÇÃO-ESTADO, O QUÊ?


Segundo palavras de G. H. Von Wright (apud, Bauman, 1.999, p. 64), a Nação-Estado “parece que se está desgastando ou talvez ‘definhando’, ou seja, existe uma grande possibilidade de eliminação do Estado-Nação, o que pode levar a uma desordem mundial”.
Essa desordem mundial nada mais é do que uma sequência de atos, que se inicia com a falta de definição dos rumos e da falta de quem a controla.
Devido a esse processo, Bauman diz que “o significado mais profundo transmitido pela idéia da globalização é o do caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais; a ausência de um centro de um painel de controle, de uma comissão diretora, de um gabinete administrativo” (p. 67), portanto, a globalização não é nada mais que um processo de desordem da economia e das relações sociais e que leva a percursos inesperados, pois, não se planejam os caminhos, simplesmente eles acontecem.
Consequentemente, nos deparamos com a morte da soberania do Estado, que tem de abrir mão do seu controle para privilegiar a nova ordem mundial. Não se supõe em tempos atuais, um Estado que vise uma política fechada que não se vislumbre o mercado global. O poder econômico foi extremamente abalado e não existem maneiras de se governar a partir de ideologias políticas e interesses soberanos da nação.
A globalização impõe seus preceitos de forma totalitária e indissolúvel, impondo pressões que o Estado não é capaz de fazer desaparecer, ou seja, alguns minutos bastam para que as empresas e a Nação entrem em colapso. O Estado está despido de seu poder e de sua autoridade, somente lhe remanesceram ferramentas básicas para a manutenção do interesse das grandes organizações empresariais. Cabe destacar que toda essa desorganização tem como ponto mais alto as regras de livre mercado, políticas especulatórias, capital global e um Estado pequeno e fraco, que tem como única função a manutenção e criação de processos que mantenham a estabilidade financeira e econômica.
Hoje as mega-empresas têm toda liberdade para realizar manobras econômicas que tornam o Estado um mero espectador, dominado e sem poder de reação.
O livre comércio e o desenvolvimento econômico vêm com a proposta da possibilidade de diminuição das desigualdades sociais, mas isso tem se mostrado uma ilusão, pois o que se apresenta é um aumento cada vez mais elevado da riqueza dos mais ricos e uma diminuição drástica das condições de vida dos mais pobres.
John Kavanagh, do Instituto de Pesquisa Política de Washington, em sábias palavras esclarece:

A globalização deu mais oportunidades aos extremamente ricos de ganhar dinheiro mais rápido. Esses indivíduos utilizam a mais recente tecnologia para movimentar largas somas de dinheiro mundo afora com extrema rapidez e especular com eficiência cada vez maior.
Infelizmente, a tecnologia não causa impactos nas vidas dos pobres do mundo. De fato, a globalização é um paradoxo: é muito benéfica para muito poucos, mas deixa de fora ou marginaliza dois terços da população mundial. (apud, BAUMAN, 1999, p. 79).

Bauman fala dos meios de comunicação mundiais, de como a maior parte dos pobres não têm acesso a eles e, também, que estes meios, ao mesmo tempo, divulgam a existência, num mesmo local, de homéricos crescimentos econômicos e o aumento da camada pobre.
Em seguida o autor coloca que o que se propaga é a ideia de que pobreza é sinônimo de fome, mas existem outras questões da pobreza que ficam “encobertas”: péssimas condições de vida, analfabetismo, famílias destruídas, etc.
Todas as tentativas de mudança encontram barreiras e sua eficiência é momentânea, pois, este sofrimento da sociedade humana tem como precedente, amarras, que são facilmente retraçadas e mutáveis pela globalização e pelo sistema de produção capitalista.


TURISTAS E VAGABUNDOS


No capítulo 4, Bauman discursa sobre o movimento e a noção de que hoje em dia sempre nos deslocamos, mesmo quando estamos fisicamente parados.
O prof. Ricardo Petrella assim resumiu: “A globalização arrasta as economias para a produção do efêmero, do volátil (por meio da redução em massa e universal da durabilidade dos produtos e serviços) e do precário (empregos temporários, flexíveis, de meio expediente).” (apud, Bauman, 1.999, p. 86).
Observa-se, ainda, que numa mesma sociedade de consumo o consumidor é a pessoa em movimento e fadada a se mover sempre.
Movemo-nos divididos, quer dizer que estamos vivendo num mar aberto, sem sinalização que indique o caminho. Podemos nos alegrar com as perspectivas de novas descobertas ou morremos de medo. Ainda poderíamos ter uma terceira opção, um porto seguro, mas na verdade ele não existe, porque quando achamos que o encontramos alguém vem e moderniza, então, ele deixa de ser um porto seguro.
“Todo o mundo pode ser lançado na moda do consumo; todo o mundo pode desejar ser um consumidor e aproveitar as oportunidades que esse modo de vida oferece. Mas nem todo o mundo pode ser um consumidor”, palavras de Bauman, que exemplifica essa colocação com dois extremos: o Turista e o Vagabundo.
O Turista é um privilegiado que conseguiu o prêmio da mobilidade, sua única frustração é pensar que pelo fato de estar aqui agora, não pode estar em outro lugar. Ele vive ansioso pela nova experiência. Seu maior privilégio é movimentar-se porque quer, como quer e quando quer.
O Vagabundo é um consumidor frustrado. Movimenta-se porque é empurrado pela necessidade de experiência. Os seus sonhos são apenas um emprego qualquer, uma tarefa humilhante para o Turista.
O primeiro viaja à vontade, normalmente em primeira classe, diverte-se bastante, é adulado, recebido com sorrisos e de braços abertos. O segundo viaja às escondidas, por vezes ilegalmente, ou pagando pela terceira classe e, muitas vezes, visto com desaprovação.
Metaforicamente, Bauman designa os turistas como as pessoas de extrema mobilidade e os vagabundos 80% dos cidadãos e que a pós-modernidade vai trazer cada vez mais a exclusão social, que gera uma subclasse.


LEI GLOBAL, ORDENS LOCAIS



No último capítulo, o autor lembra o que Pierre Bourdieu escreveu no artigo apresentado numa conferência em Freiburg, Alemanha, em outubro de 1996, onde cita uma declaração feita por Hans Tietmeyer, presidente do banco central alemão, quando, de forma casual e descuidada, afirma que o que está em jogo hoje em dia é criar condições de confiança para os investidores.
Tietmeyer explica que essas condições seriam o controle de gastos públicos, redução de impostos, reforma do sistema social e o desmantelamento das normas do mercado de trabalho, pois este é rígido demais e precisa se tornar flexível, ou seja, mais dócil e maleável.
Acrescento aqui, que para Tietmeyer só isso é importante e o resto “que se lixe”... como se pode ver o “resto”, no ano passado, foi o início da crise financeira americana que abalou a economia mundial.
Quanto à questão sobre lei global e ordem local, o autor transmite a ideia que todos os processos mundiais têm as mesmas características, pois todos aplicam leis que garantem à classe média as condições mínimas e castiga com leis severas as classes desfavorecidas.
Faço um pequeno aparte para citar um trecho, que fala sobre globalização, na obra de Renato Ortiz, Um Outro Território – Ensaios Sobre a Mundialização, 2ª edição, Ed. Olho D’água, agosto 2003, p. 193-194:

Em uma situação história na qual as relações sociais estão definidas. Para apreendê-las, é necessário repensar aspectos das Ciências Sociais. Não se trata a rigor de uma mudança paradigmática, mas o estoque de conceitos que possuímos, devido à historicidade do objeto, foi cunhado para dar inteligibilidade a um outro contexto. No caso da Sociologia, Ciência Política e História, a referência ao Estado-Nação tem sido preponderante. Conceitos como identidade nacional, partidos, história nacional e modernização são aplicáveis quando se postula a nação como integradora dos processos sociais.

Para finalizar, o livro de Bauman traz consigo a reflexão das consequências da globalização para os seres humanos, onde a cada momento temos um aumento da pobreza e diminuição das condições mínimas de sobrevivência. Em contrapartida, existe um aumento das grandes potências empresariais e da exploração advinda do seu modelo desvinculado do local, tendo na sua visão e modelo global, um alicerce para sua manutenção e precariedade da vida humana.
CONCLUSÃO

Qual será o futuro do ser humano com a globalização? É preciso parar e refletir, pois estamos cada vez mais envolvidos por um turbilhão de informações e mudanças, e afinal, afinal, como sabiamente afirmou o autor, estamos num barco à deriva, sem destino e sem comando.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

TOLERÂNCIA ZERO

O fato de se tornar intolerante, rabugento e desagradável era privilégio daqueles que envelheciam. Mas, o que se vê é uma gama cada vez maior de pessoas estressadas, irritadas, intolerantes e desequilibradas, não importando a idade.
Na verdade, perderam-se valores, tais como respeito, moral e ética.
E a banalização desses valores é notória pela atitude diária das pessoas, ou melhor, na falta de educação nas diversas situações do dia-a-dia.
Tolerância zero: banalização dos valores!
A intolerância é até justificável, quando se analisa o panorama político do país.
Tolerância zero: obrigatoriedade do voto!
Votar para quê?
Para eleger Presidente sem escolaridade, governadores, senadores, prefeitos, deputados e vereadores, todos sustentados pelo povo, que paga tributos com a única finalidade de manter privilégios aos poderosos.
A máxima de que “um exemplo vale mais do que mil palavras” deveria estar internalizada naquelas pessoas que têm vida pública.
Pois, se são mentes pensantes e fazem o que fazem, por que criticar a atitude do famoso jeitinho brasileiro? Como ensinar valores a um povo que mora num país, em que seus governantes, com suas atitudes feudais, jogaram seus valores na lata do lixo?
E toda essa realidade se reflete dentro de casa, no trânsito, no supermercado, na escola. Vê-se a falta de respeito imperando.
Em casa, os filhos exigem, dominam, ordenam: os pais cedem! A falta de respeito prevalece.
Tolerância zero: desrespeito dos filhos aos pais!
Na escola, desde o ensino fundamental à universidade, a relação aluno-professor está deteriorada.
Os pais, que já perderam o controle de seus filhos, exigem da escola aquilo que eles não conseguiram fazer.
A escola, com toda a sua problemática, não se vê preparada para ensinar alunos malcriados a serem corteses, pois esse é o papel dos pais. E como se diz “educação vem do berço”.
O professor, que antes era valorizado e reconhecido, passou por um grande processo de depreciação (tanto na questão salarial, quanto na questão de valorização como ser humano). E, ainda, precisa tolerar o comportamento medíocre dos alunos em sala de aula, pois a Direção da escola assim o exige. E essa política adotada pelas escolas e universidades, de excesso de tolerância, também coopera para o caos que hoje se verifica.
Já é hora de cada um desempenhar verdadeiramente seu papel!
Os pais precisam ensinar a seus filhos, dentre tantas coisas, pequenos valores como dizer: muito obrigado, por favor, com licença. E, demonstrar isso com seu próprio exemplo.
O professor precisa se impor com autoridade e simpatia, deixando bem claro o seu papel na vida do aluno.
As escolas e universidades não devem ser tão permissivas (principalmente, as escolas particulares), a ponto de não se imporem, por medo de perder seus alunos (clientes).Enfim, a desordem é geral. E, em meio a toda essa confusão, é preciso resgatar os valores há muito esquecidos. Só por meio deles, poderemos ter o equilíbrio para o nosso bem-estar físico e psicológico.

O QUE PENSAR E AGIR DIANTE DO ATRASO?

O brasileiro ainda não se deu conta do quanto é desrespeitosa a atitude de quem é impontual nos seus compromissos. Alguns manifestam haver um certo charme nos pequenos atrasos, em determinados eventos. Outros demonstram prazer na falta de pontualidade.
Ao marcar um compromisso e ser pontual, demonstra-se consideração e deferência pelo outro. Na falta de cumprimento do horário, o que se denota é falta de apreço e, até mesmo, descortesia.
Quando não houver possibilidade de chegar à hora marcada, o telefone celular é um recurso muito útil e eficiente. E é preciso dar ciência da demora o mais rápido possível.
No caso de pessoas que sempre se atrasam, não se deve ser condescendente!
É preciso esclarecer, a quem tem esse hábito, que essa atitude demonstra a falta de controle do próprio tempo, e que sua marca registrada, na vida pessoal e profissional, será a displicência e desorganização.
É necessário, também, lembrar que pessoas inteligentes, elegantes e bem-educadas não se utilizam de pretextos e desculpas esfarrapadas para justificar um atraso.
A melhor forma de evitar retardamentos injustificáveis é a organização. Algumas medidas simples e eficientes podem ser adotadas com esse intuito, como, por exemplo, sair mais cedo de casa ou antecipar o horário de acordar.Portanto, a pontualidade é imprescindível e essencial para a construção de uma imagem pessoal e profissional sem mácula, baseada na credibilidade e confiança.

EPITÁFIO

Não passei pela vida. Ao contrário, vivi-a de forma plena, profunda, serena, extasiante.
Busquei sonhos grandes... sonhos pequenos... sonhos possíveis... sonhos impossíveis.
Nos sonhos possíveis, realizei-me.
Nos sonhos impossíveis, não me lastimei.
Viajei por muitos lugares... conheci o belo e o feio.
Viajei dentro de mim... Lá, fiz as mesmas descobertas.
Tomei banho de chuva, senti o orvalho na grama úmida, afundei os pés na lama.
Escalei montanhas (na verdade uma pequena colina)...
Banhei-me nas águas doces dos riachos... e na salgada água do mar.
Vi o sol nascer... embeveci-me quando ele se pôs.
Contemplei o vai-e-vem das ondas, o brilho da lua, a imensidão das estrelas... e as nuvens. Ah! As nuvens! Nelas, fiz muitos desenhos.
Amei, chorei, arrisquei, errei, acertei.
Fui amada, fui odiada.
Fui mimada, fui negligenciada.
Fui inocentada, fui julgada.
Fui enlevada, fui humilhada.
Fui criança quando criança.
Fui adulta quando criança.
E, quando adulta, nunca esqueci a criança dentro de mim.
Fui boa filha, boa mãe, boa irmã, boa amiga, boa esposa, boa amante... Fui somente alguém.
Fui má filha, má mãe, má irmã, má amiga, má esposa, má amante... Fui, muitas vezes, ninguém.
Joguei o jogo do contente... mas, nem sempre.
Tive momentos em que desci do salto, esqueci os bons modos... usei vocábulos impublicáveis.
Esse foi o caminho que percorri... essa foi a vida que tive... vivida, sentida.
Àqueles que comigo compartilharam esses momentos, deixei um pouquinho de mim... e levei muito de cada um deles.

A todos os que amei, e fui por eles amada, não se esqueçam de me lembrar.Os demais, que se lembrem de me esquecer.