terça-feira, 26 de maio de 2009

QUEBRANDO MINHAS BARREIRAS

Tudo ia bem... Uma boa casa, um bom carro, um excelente emprego, um filho que sempre me trouxe alegrias, viajar sempre que possível... Até que, motivada pela energia de quem estava sempre buscando novos conhecimentos e oportunidades, despertei para outros interesses e comecei a ver a vida por uma nova perspectiva.
Enchi-me de coragem e, da mesma forma que todo ano tinha que encarar o “leão” do Imposto de Renda, resolvi enfrentar o “bicho-papão” do vestibular.
Estava fora do “mercado” do vestibular, há quase 20 anos, e acreditava que minhas chances de passar eram ínfimas. Afinal, meus conhecimentos se resumiam à minha experiência profissional, especificamente, na área jurídica, e nos meus 35 anos de idade. Ou seja, quase nenhuma.
Num primeiro momento, precisava escolher o curso que realmente me realizasse, afinal estava optando por uma realização mais pessoal do que profissional. O mais indicado seria fazer Direito, que estava diretamente relacionado ao meu trabalho e facilitaria a minha ascensão. Mas, definitivamente, Direito nunca esteve nos meus planos.
Confesso que cheguei a olhar a grade curricular, mas cada matéria que eu lia criava uma “coisa” no meu estômago que, definitivamente, não era boa. Sabe aquela sensação de que você comeu uma maionese estragada, ou pior, quando você recebe a conta do cartão de crédito? Se você não tem um cartão de crédito, sorte a sua! Porque a sensação não é das melhores, ainda mais quando a gente extrapola nas comprinhas.
Pois é, voltando à grade curricular! Área de exatas, nem pensar... biológicas, então? Não gosto nem de tirar meu sangue para fazer aqueles “maravilhosos” exames anuais, quanto mais ver sangue dos outros!
Voltei às humanas! Fiquei dividida entre Psicologia e Jornalismo, com uma maior tendência à segunda opção.
Nessa hora, percebi que precisava ser prática! Afinal, tinha que pensar na minha realização pessoal. Mas, também, em algo que pudesse ser aproveitado no meu atual emprego. Se pudesse unir o útil ao agradável, ficaria ainda melhor! Unir a paixão e a razão! Pensando em tudo isso, fiz a opção pelo Jornalismo.
Fui à luta! Com a cara e a coragem, sem cursinho preparatório, entrei nos sites das universidades, para fazer minha inscrição. Primeira decepção! Nenhuma universidade oferecia, no vestibular de inverno, a opção de Jornalismo.
Já estava decidida a fazer um “teste” comigo mesma para ver minha capacidade, ou incapacidade, de passar no vestibular. Tinha a opção do Direito! Era só teste. Portanto, encarei a prova!
No dia do vestibular, fui despreocupada! Afinal, só tinha comentando com amigos mais íntimos. Se não passasse, só iria aguentar a gozação deles.
Além do quê, meu propósito era um teste, e o curso não era o que eu queria.
Fiquei, confesso, ansiosa para que chegasse logo o dia do resultado. Afinal, minha autoestima estava em jogo!
O dia do resultado chegou. E, com ele, para minha surpresa: segundo lugar! Aquilo foi o céu! Contei para todo mundo e me senti viva de novo! Foi uma sensação inigualável!
Passada a euforia, coloquei os pés no chão. E a vida continuou seu percurso, tal qual o rio, às vezes, com algumas corredeiras, mas, depois, seguindo o seu curso normal.
Iria aguardar até o início do ano, para, novamente, fazer o vestibular, este com a opção certa.
Esqueci momentaneamente aquela adrenalina e toquei a vida.
Cinco meses haviam se passado e lá estava eu, mais uma vez, passando pela prova do vestibular. Um pouco mais preocupada, pois, o número de concorrentes era maior e, dessa vez, seria para valer!
A angústia pelo resultado foi três vezes maior. E, no dia “D”, mais uma vez, surpreendi-me: 2° lugar novamente! Numa universidade particular, é claro! Nem tentei a universidade pública, porque, lá, com certeza, minha autoestima iria parar no meu pé... ou melhor, provavelmente, eu nem mais teria uma autoestima!
Orgulhosa, por atingir meu objetivo inicial, que era passar no vestibular, fui fazer minha matrícula! Passei rapidamente os olhos para o valor, escrito bem pequenininho, no lado direito do boleto! Nessa hora, lembrei-me da tal Pollyana não sei do quê, e do seu Jogo do Contente! Para quem não conhece o jogo, a coisa funciona mais ou menos assim: Pollyana, personagem principal do livro, conseguia ver sempre algo positivo, mesmo nas piores situações! Não sei como ela conseguia!
E, como Pollyana, estava eu ali tentando jogar o jogo. Sabia que teria de abrir mão de algumas coisas. Procurei não pensar nas viagens que deixaria de fazer, nos sapatos que deixaria de comprar... Mas, afinal, nem sou uma centopéia! Não preciso assim de tantos sapatos! Maldita hora em que, lá pelos meus idos 12 anos, li aquele bendito ou maldito livro!
Veio o final do ano! Festas, viagem (afinal, ninguém é de ferro!) e muito descanso! E tudo passou muito rápido!
Início de fevereiro! Começariam as aulas!
Foi nesse momento, que olhei para mim e vi que essa nova realidade vinha com um grande pacote de esforços, que incluía vencer medos, lidar com a falta de tempo e paciência para algumas rotinas que já não faziam muito sentido. Além, é claro, de deixar de partilhar minhas noites com meu pequeno filho, na verdade um pré-adolescente de 8 anos, mas que, para mim, será um eterno bebê.
Naquela hora, pensei numa velha frase: quanto maior o sacrifício, mais saborosa será a vitória! Não sei se é exatamente assim a frase e nem quem é o autor, mas foi do que me lembrei.
Enfim, o tão esperado dia 9 de fevereiro havia chegado. Estacionei o carro, enchi-me de confiança e entrei pelos portões da universidade.
Era um burburinho só... gente indo e vindo... sem saber exatamente onde ficar. Somente os calouros estavam ali. O retorno às aulas para os veteranos estava marcado para o dia seguinte.
Tentei localizar minha sala, e o comentário que ouvi era que o reitor, os coordenadores dos cursos e professores iriam se reunir no pátio central, para dar as boas vindas aos alunos.
No meio do caminho, encontrei nas escadarias do bloco do meu curso duas meninas, que pareciam tão perdidas quanto eu. Tentei um breve contato e fiquei feliz, pois houve uma boa receptividade. Elas também eram do primeiro semestre de Jornalismo. Coincidência ou não, já não estava mais me sentindo tão só.
Fomos as três para o pátio e nos juntamos a outros tantos calouros de vários cursos. O lugar era relativamente pequeno para a pequena multidão que se aglomerava em volta de um palco, montado especialmente, para a ocasião. O calor era infernal, típico de um dia de verão!
O reitor discursou e, em seguida, nos apresentou todos os coordenadores de curso. Algo que considerava necessário, mas bem diferente do que eu me lembrava da experiência do meu primeiro dia de aula na universidade pública, há alguns anos.
Mas, os tempos mudam e, aqui, a realidade era outra: estava numa universidade particular, onde é preciso conquistar de todas as formas o aluno, para que ele não desista do curso, ou deixe de pagar as mensalidades. Tudo, estrategicamente, pensado!
Terminada essa cerimônia, cada coordenador de curso levou seus calouros para suas salas.
Uma forma organizada, mas que, de certa forma, passou-me a sensação de estarmos sendo levados pela mão do professor, tal qual o meu primeiro dia de aula na escola, quando a professora Margarida me segurou pela mão e disse para meu pai que eu estaria em boas mãos. Mas, isso foi há muito, muito tempo!
Ao chegar à sala, fiz exatamente o contrário do que tinha feito na minha vida de estudante. Sentei-me no “fundão”, lugar daqueles alunos desinteressados normalmente e que estariam ali, só para passar o tempo. Era exatamente a imagem que queria passar, contrária àquela dos anos do colegial: primeira da turma, nerd e da turma do “gargalo”.
A sala estava repleta de adolescentes. Cada um com suas características. Fiquei analisando cada um deles. Suas posturas, suas roupas. Uns mais tímidos, outros nem tanto, pois já tentavam um contato com quem estava mais próximo.
O coordenador conseguiu reunir todos os professores e apresentou cada um deles.
Uns mostravam-se mais técnicos. Outros tentavam usar um linguajar mais adequado e descontraído, que “quebrava” o gelo e até nos fazia rir.
Momento interessante foi quando um dos professores, meu companheiro de mais de um ano, apresentou-se. Não sabia se olhava nos olhos, para o chão, ou para os lados. Ele agia da mesma forma.
Já havíamos combinado de manter nossa situação em segredo, porque nunca foi visto com bons olhos o professor que namora aluna ou vice-versa. Não sabíamos até quando a situação iria se sustentar, mas seria o melhor a fazer.
Mas, que foi engraçado foi! Isso não posso negar!
Recados dados, professores apresentados, todos saíram e ficamos somente nós, os alunos.
Alguém sugeriu que nos apresentássemos. Cada um tinha que ir à frente da sala, falar o nome, idade, onde morava e o que gostava de fazer.
Um a um, todos foram se apresentando. Era um com 17 anos, outro com 18. A que tinha mais idade disse ter 20 anos.
Chegou a minha vez... Comecei pelo nome, o lugar onde eu morava, o que gostava de fazer e, não teve jeito, comecei a ouvir uma voz no fundo, outra na frente perguntando minha idade... Protelei por alguns instantes, fiz um pouco de charme e, por fim, falei. Mas, em seguida, usando uma estratégica pensada naquele momento, disse que no meio de um grupo tão bonito e jovem, sentia-me com muito menos idade! Pronto, vieram os assovios, as palmas e, com uma pequena frase, havia ganhado a turma! E, meu receio de me sentir excluída já havia diminuído e muito!
As aulas eram interessantes e, em algumas delas, senti que minha experiência de vida me ajudava a não ficar “boiando” em sala. Daí por diante, vi que não seria assim tão difícil me adaptar novamente aos estudos, até o dia da primeira prova. Voltei a sentir aquele “apertão” no estômago e a sensação de que não iria conseguir. Ressurgiram os velhos medos. E aquela “vozinha” que teimava em me fazer desistir ficou mais insistente e forte.
Mais um “bicho-papão” para vencer! E a primeira prova tinha que ser justamente de Sociologia! O comentário dos alunos dos outros semestres é que a prova daquela matéria era de “arrebentar”, e que, normalmente, as notas se resumiam a 3,0, 4,0, bem distantes da média, que era 7,0.
Com as mãos suadas, a boca seca e o coração acelerado, entrei na sala. Sentei-me e esperei que meu algoz, o professor, entregasse a mim aquela folha de papel com letras que, com certeza, ficariam emaranhadas diante dos meus olhos.
Antes da entrega, o professor anunciou que a prova seria feita em dupla, o que foi surpresa para todos. Fiquei feliz, mas, com um pessimismo que não me é peculiar, imaginei que a prova não seria difícil, mas, sim, bombástica.
O silencio era quebrado apenas pelo barulho do ventilador. A sala emitia uma tensão que era palpável! Finalmente, a tão não esperada folha da prova foi entregue e, tal qual minhas suposições, as letras viraram um emaranhado escuro e sem forma.
Eu e minha parceira de estudo, a mesma que conheci no primeiro dia de aula, começamos a ler e nos perguntar o que exatamente o algoz... (opa!) professor, queria que respondêssemos. Cinco questões! E, em nenhuma delas, ele teve misericórdia!
Mas, a hora era aquela e praguejei, em pensamento, os homens que se dizem inventores de tudo! Como, ainda não tinham inventado a máquina de teletransporte? Porque, na verdade, naquele instante, eu queria estar em qualquer lugar, menos ali.
Sem máquina de teletransporte e uma prova na nossa frente, não tivemos alternativa, senão tentar escrever o melhor que pudéssemos.
Quase duas horas depois, e com poucas vivas-alma na sala, entregamos a prova. O que estava feito estava feito. Restava-nos esperar apenas o resultado catastrófico, que, com certeza, seria nossa nota.
Mais provas, trabalhos. E, por fim, o resultado de cada um deles superou minhas expectativas. Na fatídica prova de Sociologia, obtivemos um 7,7, que nos rendeu uma comemoração, no intervalo das aulas, regada a muita coca-cola.
E, assim, as coisas estão acontecendo melhor do que o esperado. Fui convidada a participar de um seleto grupo de produção de texto e com o nome bem sugestivo de “Tropa de Elite – Tolerância Zero”. Das minhas produções, tive, até agora, três textos publicados, e sei que conseguirei muito mais, porque alguns mitos foram superados.
Algumas coisas que me preocupavam, como a escolha do curso certo e a aceitação do grupo, já estão superadas. E algo que tenho percebido é que a troca de experiência é algo fantástico, porque somos e sempre seremos mestres e alunos. Todo mundo aprende um pouco com o outro, e é isso que tento repassar. Até porque, vejo que a experiência se adquire com o que se assimila da vivência com as pessoas, e não pelo número de aniversários feitos.
Os medos vêm e vão. As dificuldades vão aparecer e sei que terei que superá-las. Não sei quantas vezes pensei em desistir, e não sei quantas mais ainda pensarei. Mas, buscarei viver um dia de cada vez, fazendo sempre o melhor.
Ainda continuo com a mesma casa, o mesmo carro, meu excelente emprego e meu maravilhoso filho, mas não sou mais a mesma! É como se eu estivesse passando por um tempo de amadurecimento. Tal qual a lagarta, que fica envolta num casulo solitário, até o dia em que ela rompe suas as paredes desse casulo e sai batendo suas asas coloridas para ser uma bela e majestosa borboleta! Da mesma forma que ela precisou vencer as amarras, que a impediam de voar e de mostrar sua beleza ao mundo, estou quebrando minhas barreiras para buscar conquistar meu espaço, minha liberdade e a minha felicidade!

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