quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

INTRIGAS DO ESTADO - resenha

Esse é um momento de intensa crise no jornalismo, principalmente o impresso, onde muito se fala em redações cortando pessoal, anunciantes preferindo apostar em campanhas na internet e leitores deixando de pagar por exemplares e ler tudo de graça na internet, o filme Intrigas do Estado levanta uma questão importante: para onde caminha a imprensa mundial?
Questionamentos relevantes foram levantados: manchetes bombásticas capazes de vender mais exemplares, mas embasadas em meias verdades? Ou investigação a fundo, com todos os lados da história e bases factuais? Ou seja, hoje em dia, vale mais ser comercialmente viável ou ético e confiável?
Amizade, investigação e uma grande cortina de fumaça se misturam nessa trama, um relato próximo do dia a dia de milhares de jornalistas ao redor do mundo. São dois lados e, no meio das versões conflitantes, a verdade, que raramente vai a público.
O inciso III do artigo 11 do Código de Ética do Jornalismo é claro quanto especifica que o jornalista não pode divulgar informações obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incontestável interesse público e quando esgotadas todas as outras possibilidades de apuração.
Foi possível verificar que os repórteres estavam empenhados em averiguar as informações de forma clara e limpa, porém a questão do interesse público e o deadline fizeram com que fosse usado o instrumento das gravações de imagens de um dos envolvidos, em conformidade, portanto, com a conduta ética do código.
Recentemente a revista deu destaque em sua capa para a matéria INTRIGAS DE ESTADO. Veja teve acesso a conversas entre autoridades da pasta do Ministério da Justiça que revelam a dimensão do desprezo petista pelas instituições. Os diálogos mostram essas autoridades incomodadas com a natureza dos pedidos que vinham recebendo do Palácio do Planalto. As gravações são legais e foram periciadas para afastar a hipótese de manipulação.
Uma frase marcante da reportagem na revista cita o “ensinamento” de Franklin Martins, Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, que diz “às favas com a ética” quando ela interfere nos interesses políticos e partidários dos atuais donos do poder.
Voltando à ficção, o filme Intrigas do Estado propõe um casamento entre dinamismo e responsabilidade. Há também a questão dos pontos positivos da reportagem on line e do impresso. Num primeiro momento, a relação entre os jornalistas parece ser um conflito impresso versus on line, mas na realidade há um conflito entre escolas diferentes do jornalismo. Pois, o que se percebe é uma relação mestre-aprendiz.
O que une os dois jornalistas é a busca de uma boa história, que se aproxime o máximo da verdade. Demonstrando que independentemente do meio, das tecnologias e da época, o básico do jornalismo continua de geração a geração.
Outra importante e profunda questão levantada pelo filme é sobre o conflito de interesses no jornalismo, sobre um jornalista cobrir um assunto em que o seu amigo está diretamente envolvido, além dos eternos relacionamentos, todos tênues e tensos, entre políticos e jornais, entre polícia e jornalistas, entre fontes e jornalistas. Onde um acaba usando o outro.
Voltando ao ponto antes discutido sobre o jornalismo impresso e on line, o primeiro fica em vantagem quanto ao segundo na questão da seriedade. A Internet cria a ilusão de relevância e abrangência com seus milhões de cliques, mas atinge, ainda, uma pequena camada da população.
Intrigas de Estado defende um novo formato mesclando as duas mídias, mas deixa uma mensagem importante: seja jornalista ou blogueiro, informação é uma só e tratá-la com cuidado é fundamental. E essa lição, os “jornalistas virtuais” ainda precisam aprender a averiguar, revisar e reportar, em vez de “postar”.
A crise ainda está distante de acabar, seu desfecho está nas mãos dos leitores – afinal, é deles a escolha pelo formato e tipo de produto – e é importante levantar essa discussão, especialmente enquanto parte da imprensa continuar fazendo vista grossa da situação atual vivida.
A grande mensagem do filme engloba, entre tantas outras, que a liberdade de expressão e a construção da verdade são fundamentais. Ainda que elas incomodem, é preciso respeitá-las, protegê-las e nunca pensar que só as autoridades têm razão, caso contrário, haverá restrição e engessamento da informação e isso, consequentemente, pode levar a um só caminho: para o desastre.

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