quarta-feira, 14 de abril de 2010

ACESSIBILIDADE: UM SONHO A SER CONQUISTADO

A estudante de Publicidade, Marjorie Comparim, fala das dificuldades encontradas para se locomover na Universidade

Com os olhos voltados para a personagem Luciana, da novela Viver a Vida, o público se emociona com todas as sensações vividas por um portador de deficiência, desde as dificuldades encontradas no dia a dia até a alegria das pequenas conquistas.
O tema acessibilidade teve uma maior divulgação nas diversas mídias quando houve a criação da Lei n. 1098, de 19.10.2000. Ela estabelecia normas para facilitar a locomoção das pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida, com a eliminação de barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios, e nos meios de transporte e de comunicação.
A intenção era a de facilitar a vida dos portadores de deficiência, mas, na prática, as mudanças têm sido muito gradativas e ainda é pequeno o esforço no sentido de oferecer condições para que as pessoas portadoras de necessidade tenham acesso a todos os locais públicos, sem ajuda de terceiros.
Essa realidade não é diferente na UNIDERP-ANHANGUERA. É preciso levar em conta que quando ela foi construída não houve um planejamento, uma preocupação de como seria o dia a dia de pessoas com algum tipo de deficiência física. Mas, também, é preciso entender que não é necessário mudar a estrutura dos prédios, mas fazer apenas algumas adaptações em seus ambientes. Rampas de acesso, elevador, alguns banheiros, essas foram algumas mudanças que se pode observar na universidade. Mas muita coisa ainda precisa ser feita.

NA PELE

A acadêmica Marjorie Comparim tem 22 anos, é portadora de amiotrofia muscular espinhal (AME), uma doença degenerativa de origem genética. Marjorie é uma batalhadora, fez o curso de Moda e, atualmente, ela está no 5º semestre do curso de Publicidade. Circula pela universidade em uma cadeira de rodas e ela relata que as maiores dificuldades encontradas são os acessos à biblioteca, aos laboratórios, aos banheiros e até no local que faz xerox do material que utiliza no curso.
Explica que há um elevador no bloco que estuda, mas que por ser muito antigo, vive quebrando. Vale lembrar que ele está em manutenção há quase um mês. Isso prejudica não só a locomoção de pessoas com deficiência, mas também aquelas com dificuldade provisória de caminhar, além de dificultar o trabalho do pessoal que faz movimentação dos equipamentos para as salas de aula.
As rampas são muito inclinadas e elas nem sempre dão acesso a todos os locais, restringindo o deficiente do direito de ir e vir. Há também o problema das portas estreitas e banheiros sem adaptação.
Outra dificuldade encontrada por Marjorie é na biblioteca. Apesar de ter um elevador, ele está sempre trancado, o que dificulta o acesso da estudante ao piso superior, onde ficam os computadores, as mesas de estudo, sala de TV e vídeo e a maior parte do acervo da biblioteca. Pegar um livro na prateleira também não é uma tarefa fácil, e nem sempre pode contar com o apoio de um assistente.
Até mesmo para imprimir ou xerocopiar algum documento a acadêmica encontra dificuldades, porque os balcões são muito altos.

CONVÍVIO

Não é apenas a acessibilidade física que deve ser levada em conta. Os alunos e professores também devem aprender a se "adaptar" a esses colegas com limitações físicas.
As barreiras de atitudes envolvem concepções e formas de encarar as diferenças, por isso nem sempre são fáceis de serem rompidas.
Marjorie conta que se sentiu confortável quando entrou na faculdade. "Tive uma boa receptividade de colegas e professores, eles são bastante prestativos", relembra.
Algumas universidades propõem atividades bastante interativas, como por exemplo, escolher semanalmente um aluno da mesma sala do portador de necessidade especial, que seria uma espécie de monitor para o colega. Sua função principal seria ajudá-lo a tirar fotocópia de material recomendado, estudar junto ou apenas estar disponível para auxiliar no que fosse necessário. Uma iniciativa interessante para quebrar barreiras.

A ADMINISTRAÇÃO

Marjorie comenta que, por várias vezes, procurou a coordenação do curso, mas a informação que obteve é de que não poderiam tomar providências e que suas reivindicações seriam encaminhadas para a matriz da universidade, em Valinhos-SP. Diante da negativa, ela disse que vai escrever uma carta para a reitoria, registrando as suas necessidades como portadora física.
É preciso mais que sensibilização, é preciso ação. Pois, “gritos de socorro” como o de Marjorie, infelizmente acabam passando despercebidos pelos nossos ouvidos, da mesma forma como passam pelos nossos olhos. A impressão que se tem é que parece ser necessário passar por uma situação como a personagem Luciana da novela “Viver a vida”, para que atitudes sejam tomadas.
Mas, a esperança de Marjorie não morre, “tomara que esta matéria me ajude de alguma forma” comenta.
Quanto aos administradores de nossas universidades, cabe ressaltar que qualquer mudança só ocorrerá se eles possuírem vontade política e assumirem seus papéis como gestores de instituições que não apenas formam profissionais, mas também cidadãos cientes de suas responsabilidades sociais. A inclusão passa primeiramente por aí: pela formação e pela educação que tenha como um de seus princípios a ideia da diversidade.

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